9 de agosto de 2010

Iron Maiden, Sonisphere Festival, Kirjurinluoto Park, Pori, Finlândia - 08/08/2010

"It's the same in every country when you're say are leaving..."

Helsinque, Finlândia

Cheguei na Finlândia com cara de Recife e estou deixando-a com cara de Finlândia. Quando aqui cheguei, na noite de sexta, dia 06 de agosto, estava anormalmente e insuportavelmente quente pra realidade finlandesa. Em plena Escandinávia pegar 30 graus não é mole. Eu, que sou duma cidade quente como o inferno chamada HELLcife, sofri, imagine os pobres finlandes que estão acostumado com gelo na maior parte do ano. Seria um prenúncio do que aconteceria no dia seguinte?







Como tudo aqui é extremamente caro e cheguei por volta das 20h da sexta, dia 06 de agosto, resolvi esperar no aeroporto a madrugada inteira, ir ao albergue apenas na manhã do sábado, dia 07 e, assim, economizar uma diária. Não foi difícil. Apesar de morto de cansado e não dormir praticamente há dois dias, quando saí da Irlanda, rumo à Inglaterra, depois Alemanha, depois Letônia e finalmente Finândia. Mas, resisti e assim fui ao albergue na manhã de sábado. Fácil e barato (que surpresa!!), ônibus pro albergue. Cerca de meia hora do aeroporto e mais 10 minutos a pé depois de descer do mesmo. Não foi difícil de achar. Mas eu tava morto e precisava urgente dum banho, duma cama e de algo pra comer. Cheguei por volta das 7h no albergue e o check in só seria as 14h. Fui tomar um reforçado café da manhã enquanto isso. Depois, chorei na recepção, explicando o que aconteceu comigo, dias sem dormir e todo o estresse e cansaço, então, a simpática finlandesa da recepção, foi gentil e compreensiva comigo e me cedeu um quarto às 7h30. Obrigado, garota gentil. De brinde, ainda ganhei um desconto bacana de 24 por 16 euros e ainda tive um quarto individual ao invés de um de seis camas que havia reservado. Realmente não posso reclamar dos finlandeses. Dormi até anoitecer praticamente. Acordei pra resolver uns detalhes finais da viagem e dormi de novo até a manhã de domingo, dia 08 de agosto, dia do Sonisphere Festival na Finlândia. Mais um show do Maiden! E lá fomos nós!

Cinco minutos a pé do albergue pra estação por volta das 11h. Meu trem sairia às 12h06 e chegaria as 15h56. Uma longa e cara viagem. 70 euros de ida e volta. Puta que me pariu, Finlândia!! Não podiam inventar de fazer o festival na capital Helsinque? Tinham que fazer numa cidadezinha chamada Pori há 4h da capital, mesmo num trem que chegava perto dos 200 Km/h?! Putz!! Mas lá fomos assim mesmo. O calor era infernal e eu suava em bicas. E olhe que não sou de suar. Mas a viagem passou rápido e em momento nenhum foi tediosa. Faltando cinco minutos pra chegar na estação, caiu um temporal que fez o trem balançar e encher d'agua. Foi preciso vir gente da tripulação pra tentar fechar as janelas com os fortes ventos. Pensei comigo mesmo: "Ah, não...tanto calor pra ver mais um festival debaixo de chuva e lama, não. Puta que pariu!!". Mal sabia que eu estava sendo o cara mais sortudo do mundo em estar no trem naquela hora...




Assim que desci, a tempestada ainda tava punk, mas passou muito rapidamente e abriu um sol. Impressionante. Quando cheguei ao local do festival, 10 minutos depois de descer do trem, fiquei meio assustado. Era ambulância pra todo lado correndo em disparada pra todas as direções. Que porra tava acontecendo? Apesar disso, a multidão ao redor estava quieta, o que me fez estranhar ainda mais e me perguntar o que acontecia. Primeiro, tratei de por a mochila numa barraca que armaram lá com segurança (ufa, nada mal, pois assistir aos shows com mochila pesada nas costas ou no chão é muito desconfortável) e logo entrei no lugar. Como cheguei depois das 16h, perderia o show do Anthrax e Slayer. Mas, tudo bem, já que os havia assistido. Daria tempo de ver o Iggy Pop, Motley Crue, Alice Cooper e Iron Maiden que, não escondo de ninguém, é o motivo principal dessa viagem e, claro, dos festivais.

Estranhei o fato do palco do Motley Crue estar meio detonado e o principal sem as cortinas pretas laterais e de fundo e as frontais com os logos do Sonisphere Festival. Então, lá fui buscar informações. Tinha um casal de finlandeses do meu lado e perguntei o que aconteceu. E aí explicaram que caiu um temporal repentino cinco minutos após o show do Slayer (aquele mesmo que eu peguei no trem e fez o mesmo balançar assustando a todos) e a coisa foi feia. Uma tempestade com ventos de quase 150 Km/h (similar a que aconteceu em março, no Rio de Janeiro, derrubando o palco e cancelando o show do Guns N' Roses), fez desabar parte da estrutura do palco dois, onde aconteceria o Motley Crue e causar outros sérios danos ao palco principal onde tocaria o Maiden. A chuva e o vento arrancou as cortinas laterais, frontais e traseiras, mas o principal não foi isso. Devido aos fortes ventos, muitas barracas saíram voando e atingiram pessoas. Cerca de quarenta foram feridas, duas em estado grave. É, eu não posso reclamar da sorte nessa viagem. Cheguei minutos antes da tragédia. Pro trem ter balançado do jeito que balançou, assustando a todos e o inundando, é claro que o temporal era feio.

Todos se perguntavam a essa altura se ainda haveria shows ou cancelariam tudo. Uma mulher da organização entrou no palco várias vezes pra informar as novidades e acalmar o público que se mostrou paciente e educado o tempo todo sem entrar em pânico. Os telões também emitiam informações em inglês. Após algum atraso, totalmente compreensivo pelo caos que aconteceu, Iggy Pop ainda subiu no palco pra tocar quatro músicas acústicas por respeito aos fãs. Fantástica atitude e fantástico profissionalismo tanto da banda quanto da produção. A questão principal, porém, era se haveria show do Alice Cooper e, principalmente do Iron Maiden. Após algum tempo de silêncio, a mesma produtora loira entra no palco novamente pra dar alguns avisos. O palco tinha sido danificado, o som também, os fios idem, e pediu pra todos abrirem espaço e saírem de cima daquela plataforma de borracha e aluminio que montam no meio do show, no chão, ligando a torre de som ao palco. Técnicos trabalharam arduamente e rapidamente pra trocar os fios. O público também colaborou muito atentendo a todos os pedidos da produtora. Após alguns minutos de trabalho intenso, eis que sobe ao palco o próprio Bruce Dickinson. Pediu paciência a todos e agradeceu pela colaboração e compreensão e decidiu ele mesmo explicar o que tava acontecendo. Parte da produção do Maiden, que estava no aeroporto de Pori, não chegaria a tempo, já que o avião deles tinha simplesmente sido distruído com a tempestada, parte do cenário também não seria montada devido a dando na estrutura, mas que todos estavam trabalhando arduamente e que tanto o Maiden como o Alice Cooper fariam os shows completos, porém, teriam que atrasar em duas horas do horário oficial. Não preciso dizer que o baixinho foi ovacionado pela atitude de subir ele mesmo ao palco pra explicar tudo. Após os avisos do baixinho, a produtora finlandesa subiu no palco novamente pra dar mais avisos. Disse que infelizmente 40 pessoas tinham se ferido na hora da tempestada e estavam no hospital e 2 em estado grave com ferimentos na cabeça. Mas que todos estavam rezando por eles e a produção do festival estava fazendo o máximo pra torna-lo possivel, assim como as autoridades, mantendo a todos com segurança. Adiaram em uma hora os horários das voltas do trens pra não prejudicar ninguém, avisaram que mudariam novamente caso o tempo mudasse novamente e, caso ocorresse uma nova tempestade, buscassem abrigo nas laterais do lugar.

O Alice Cooper entrou no palco com parte do equipamente emprestado pelo Slayer e sem cortinas de fundo, laterais e frontais, o que tornou meio difícil de ver o show, pois o sol brilhava forte mesmo por volta das 19h30 quando começou o show da tia Alice. Nota 10 pros músicos que superaram todas as adversidades e fizeram um show fantástico e cheio de energia. Nota dez pra produção que trabalhou insanamente pra tornar isso possível.

Ao término do show do Alice Cooper, a galega entrou no palco novamente pra dizer que o show do Iron Maiden, inicialmente marcado pras 20h, aconteceria as 21h45. O que se viu foi um trabalho heróico da equipe de produção pra montar praticamente todo o cenário do Maiden em pouco mais de 1h. Às 22h em ponto, sem as cortinas laterais, frontais e traseiras, se ouviu a introdução de Doctor Doctor, sinal pro começo do show do Iron Maiden, enfim. Bruce entrou com um fôlego superior ao tradicional, mas estava preocupado com a água no palco. Mas, se há uma banda que cresce nos momentos mais difíceis e não se rende e nunca se entrega, essa banda se chama Iron Maiden. Ainda na execução de The Wicken Man, vários roadies subiram ao palco com toalhas. Bem parecido ao que aconteceu em São Paulo em 2008 e 2009, lembram? Bruce, mais uma vez, com extremo profissionalismo, esteve simpático e brincalhão com os roadies e público o tempo todo. Esse show era mesmo especial. No meio da galera, encontrei uns finlandeses que foram muito simpáticos e gentis comigo. Me viram com a camisa do Brasil e falaram que os finlandeses amam os brasileiros e bla bla bla. Pagaram bebida pra mim e etc. Fui tratado como rei, hehe.

Enquanto isso, no palco, se via uma banda dando 200% de si e um público dando 300%. O Wacken que me perdoe, mas, até agora, dos quatro shows que já vi dessa turnê na Europa (perdi apenas o da Suécia), o público finlandês se mostrou, de longe, o mais apaixonado, fiel e animado possível. Todas as músicas foram cantadas do início ao fim. Todos os finlandeses agitavam sem parar, mas cada um respeitando o espaço do outro. Fiquei quase na grade, todo apertado, mas com espaço suficiente pra pular e ver ao show com ótima visão. O público finlandês é apaixonado e honesto. Todo mundo respeita o espaço do outro, mesmo quando se está tão perto da grade. Isso foi fantástico.

Um Bruce Dickinson, visivelmente emocionado (tinha completado 52 anos na noite anterior), disse que era fantástico os esforços da produção, autoridades e do público pra tornar tudo aquilo possível. Sentia muito pelas pessoas feridas no hospital, principalmente as duas em estado grave com ferimentos na cabeça, mas que honestamente, era um dos melhores shows que o Maiden já fez na vida e, ele estava sendo honesto. Quem estava lá viu e sentiu isso. Banda e público. Autoridade e produção. Todos num só. Realmentte um show fantástico. Não sei se superou o meu primeiro, em São Paulo, 2008. Mas, se não superou, foi apenas pelo detalhe de ser o primeiro, pois, esse show finlândes, vai ficar pra sempre na memória. Uma pena que não tenho fotos dele. O casal finlândes ficou de me enviar hoje, mas, não dá pra confiar, né? Mas, aguardemos. O máximo que vou postar pra vocês, são imagens já divulgadas na internet do que lá aconteceu.

Na volta, o jeito foi ir a pé pra estação de trem, cerca de 20 minutos, pois, algumas estradas haviam sido fechadas por causa da tempestade. No caminho, encontrei um brasileio. Já tava pensando comigo mesmo que a Finlândia seria o primeiro lugar ao qual não encontraria um brasileiro. Foi aos 45 minutos do segundo tempo, mas encontrei, hehe. O meu trem que, inicialmente sairia as 23h55 e chegaria em Helsinque às 03h50, teve seu horário alterado duas vezes e acabou saindo apenas às 01h30 com previsão de chegada a Helsinque por volta das 05h40. Outros imprevistos aconteceram na viagem, ainda devido ao caos da tempestade que derrubou árvores ao redor e etc, o trem só chegou a Helsinque às 07h30. Bom que dormi bastante e agora estou ok. São aproximadamente 11h da manhã agora e meu vôo só sai as 18h40. Vou pra Letônia e de lá a Bergen, Noruega, pro próximo show do Maiden, na quarta, dia 11. Espero que o tempo ajude lá, pois, pelo que tive informações, tempestades também prejudicaram o show da Suécia, um dia antes desse aqui da Finlândia, mas, mais uma vez, o Maiden foi heróico e conseguiu fazer o show evitando o cancelamento. É realmente uma banda especial. Talvez essa garra explique tamanha fidelidade, adoração e amor dos fãs com essa banda única e esses seis músicos igualmente únicos e fantásticos. E lá vamos nós ao nosso 5° show dos 11 na Europa, 7º no total. Vejo vocês em Bergen, Noruega. Espero que, com fotos, dessa vez. Up the Irons!!

Set List

01. Intro: Doctor Doctor - The Wicker Man
02. Ghost Of The Navigator
03. Wrathchild
04. El Dorado
05. Dance Of Death
06. The Reincarnation Of Benjamin Breeg
07. These Colours Don't Run
08. Blood Brothers
09. Wildest Dreams
10. No More Lies
11. Brave New World
12. Fear Of The Dark
13. Iron Maiden

Bis

14. The Number of the Beast
15. Hallowed Be Thy Name
16. Running Free


PS: Moon, to bem, viu? Se preocupe, não. A coisa foi feia, mas me salvei inteirinho. Pode sossegar do lado daí que tá tudo ok comigo.

Um comentário:

  1. Hey London roommate!

    I just found this note in my pocket with your blog address on it! I'm glad you got out of that storm alive! I was worried. I understood maybe 15% of what you wrote, but I hope you had no injuries! What a first Finland experience! :) Hope things are good back in Brasil!

    -Lotta

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