24 de maio de 2012

Londres, parte I

"Ah, mais que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco..."

Londres, Inglaterra

Talvez seja só cansaço. Mas não começou bem. A viagem de Frankfurt a Londres foi de longe a mais longa, estressante, desgastante e pior da minha vida. Um pesadelo. Após as intermináveis horas d’espera, avião atrasado, pessoas impacientes, igualmente cansadas (vôo às 6h30). Uma bagunça pra acomodar cerca de 200 pessoas no vôo da Ryanair, rumo a Londres, aeroporto de Stansted. Não quer viajar economizando, não se pode querer e cobrar luxo, pode?

Vôo curto, cerca de 1h, mas turbulento, desconfortável. Pouso violento. Que pancada! Deu até medo, porque não se via um palmo a frente. Nevoeiro. Muito nevoeiro. Bem-vindos à Inglaterra. A terra do céu cinzento e do vento frio. Mas vamos lá, rumo ao albergue, só quero dormir. O pesadelo logo vai passar, o cansaço vai morrer logo mais. Força. Firme e forte. Rumo à imigração. Haja paciência no meu debilitado humor.

Pra minha surpresa, e ao contrário da Alemanha, o fiscal inglês da imigração foi pra lá de simpático comigo. Brincou sobre o bando de show que eu ia, e falou: “Hum, Jethro Tull, Fish, Glenn Hughes, Iron Maiden...gosta mesmo das bandas britânicas hein, meu rapaz. Seja então bem-vindo novamente à terra do rock. Tenha um bom dia, meu jovem.” Gente educada anima teu dia, mesmo quando é um dia de merda. E lá vamos nós descobrir como chegar ao albergue. Facinho, mas igualmente longe. 2h de ônibus do aeroporto até a estação central de Victoria. Hora de comprar uma água pra ter o privilégio novamente de ser muito bem tratado por uma simpática atendente. Meu humor foi mudando pra melhor. Nem cinco minutos d’espera, e chega o ônibus. Fui confirmar com o motorista que me deu um coice. Tava bom demais pra ser verdade. Sendo assim, quando algum gringo for grosso com você, devolva na mesma moeda e em português. Algo como: “No seu cu, também, gringo chupão”. Eles sempre vão perguntar: “What!” e você sai rindo sem falar mais nenhuma palavra...

Após quase 3h, finalmente na estação Victoria. É preciso lembrar que Frankfurt era uma cidade de pouco mais de 600 mil pessoas, Londres, mais de 10 milhões. Trânsito, muito trânsito. Calor, muito calor. O frio inicial da manhã, infelizmente se foi. 12h, hora do rush. Um caos. Péssima hora pra chegar a Londres. Filas e filas pra comer alguma coisa.  Cansaço, estresse, um dia sem dormir...estou perto d’explodir. Vamos pegar o metrô, rumo ao albergue, só cinco estações, pouco mais de dez minutos. Uma hora esperando o check in, um longo e merecido banho, alguma coisa pra comer e cama, certo? Errado. Muito errado!

Eu deveria ter chegado no albergue às 9h. Mas a Lei de Murphy está por aí, né? Houve algum problema no metrô de Londres e tudo se tornou um caos. Em plena quinta-feira, horário do rush. O avião sairia da Alemanha às 6h30 e chegaria aqui às 6h45 (devido ao fuso duma hora). Com o atraso do vôo e com o trânsito desgraçado que peguei, só fui chegar à estação às 10h30. Mas vamos lá, baterias quase pifando, calma pertinho do fim, mas vamos lá, ânimo, só mais cinco minutos rumo ao metrô, cinco estações, dez minutos...

Caos no metrô de Londres, lembram? Pois bem. Após idas e vindas, trocas de estações, avisos nos alto-falantes o tempo todo, dizendo o que fazer, depois dizendo o oposto, fizeram os dez minutos se tornarem em três horas e meio. Se existe uma linha fina entre literalmente perder toda força do seu corpo, acho que experimentei isso. Se eu não tomar um banho, comer alguma coisa e finalmente desabar numa cama, sinto que vou pifar em menos de dez minutos...

Ao menos, identicamente ao albergue de Frankfurt, o daqui de Londres, também fica exatamente em frente à estação Hammersmith. Basta atravessar a rua. Porém, o albergue, né? Isso não é um albergue. É um pub. Adaptaram os dois andares acima como albergue. Não gostei do lugar de cara, apesar da localização. A internet daqui não funciona e isso é um grande atraso, quando em Londres, tudo é um assalto (inclusive pagar por internet) fui tomar banho e a ducha não tem regulagem e ela te molha na cara, não teu corpo. E não tem como regular aquela porra. E a água é fria. Caralho! Que dia! Que falta mais acontecer. Isso tudo pra um primeiro dia! Hoje, só quero dormir. Amanhã, show do Fish e Glenn Hughes a noite. Espero que ajude a amenizar esse pequeno inferno astral. Não farei nada aqui em Londres. Absolutamente nada. Parto pra Glasgow em dois dias, depois Edimburgo e então retorno pra três dias em Londres. Com calma, talvez num outro albergue, eu relaxe. Por hoje, é “só”. Espero que os dias sejam melhores, pois esse primeiro, foi um inferno. Vejo vocês em breve...






Frankfurt, parte III

"A gente vive assim, sempre acabando o que não tem fim..."

Londres, Inglaterra

E vamos nos despedindo de Frankfurt. Foram quatro longos dias de muito calor e muitas andanças. Não saí a noite, não socializei, não fui pra nenhuma festa, não comi ninguém. Minhas viagens são sempre por causa dos shows. Tudo que vier de bom, fica como bônus. Os shows são o brinde. “Música e F1...as únicas coisas que me chamam a atenção e me dâo algum ânimo. Sujeito chato, sou eu...” Não sou um turista nem tenho dinheiro pra isso. Se assim for, gastarei o pouco e já contado dinheiro que tenho em um dia. Vocês ficariam alarmados sobre o que é fazer economia pra mim. Enquanto alguém gastaria fácil (nada mais normal) pra lá de 100, 200 euros numa noite. Eu gastei em quatro dias em Frankfurt, 40 euros...

Se é pra economizar tudo, paga-se o preço. A diversão, já são os shows. Se eu quiser mais, preciso fazer um outro planejamento de viagem com esse objetivo. E que ao invés de durar dois, três meses, dure uma, duas semanas. Ou ter mais dinheiro. Ganhar na sena e não precisar controlar cada centavo simplesmente pra sobreviver ao final dessas malucas aventuras. O preço pede seu pagamento. Sempre dinheiro. Me deixa triste.

Após o check out no albergue, seriam 2h de ônibus da estação central Hauptbanhoff até o aeroporto de Hahn. Ali no cu do mundo. Paga-se o preço por gastar só 13 euros de um avião de Frankfurt para Londres. Só o ônibus pro aeroporto, custou mais 13 euros. Dá pra entender? Chegando por lá, eu teria que passar pela mais longa espera da minha vida. Foram torturantes 17h que pareceram durar dias. Espero nunca mais precisar passar por isso. E não tinha internet. Nem música, nem filmes, jogos, livros, nada. O jeito foi andar, andar, escrever, escrever, escreve, sonhar, pensar, sentir. Deu até vontade de chorar. Isso, nunca mais. Ao menos a temperatura baixou. Saí da Alemanha num “frio” de 15 graus rumo a Londres. Pra quem chegou lá fazendo 29º e passou um calor quase recifense em todos os dias, nada mal.

Nas 17h d’espera, muitas cenas interessantes no aeroportinho ali depois do cu da Alemanha. Uma família de asiáticos que falava gritando e perturbou pra valer o silêncio do pacato aeroporto. Casais de viadinhos fashion de mãos dadas. Én én. Malas, mau encarados, brasileiros (é claro...). Uma menininha de seus dois aninhos, correndo no portão do embarque pra ver a mãe que esperava a guria e o pai. Cena legal pra distrair tantas horas torturantes d’espera. Um negão, típico gigolô de filmes de comédia. Sapato branco, boina, ouro, muito ouro, óculos espelhado. Uma figura. Um clone do Bin Laden, uma clone da Amy Winehouse. E a lista foi seguindo e seguindo e seguindo e seguindo...mas o tempo, sem passar.

Nas 17h d’espera que lá passei, passou de tudo no aeroporto. Até cachorro desfilando. E assim foi minha despedida de Frankfurt.  Tudo muito bonito, mas não sei se fico mais chato e frio a cada dia, ou quando você viaja muito, novos lugares perdem a força do impacto. Não sei. O que sinto, é isso. Apenas. Muito bonito, muito legal, mas é só mais uma cidade como outra qualquer. Só mais uma país como outro qualquer. Igual ao seu, só usa roupa diferente. São só pessoas (mais bonitas, verdade, e muuuito!) falando alemão. Mas apenas pessoas. Talvez eu esteja só cansado. Talvez triste. Enfim, adeus Frankfurt, Alemanha. Vamos novamente a Londres, Inglaterra. Vamos ver o que sinto por lá...

Jethro Tull’s Ian Anderson plays Thick as a Brick 1 & 2 – Parte I

'So you ride yourselves over the fields, and you make all your animal deals, and your wise men don't know how it feels, to be Thick as a Brick..."

Londres, Inglaterra

Apenas cadeiras, tudo muito comportado. Show estranho, já disse, né? Ao menos fiquei perto. Quinta fila. Duas pernas de distância de Mr. Ian Anderson. A lenda do Jethro Tull ali, pertinho. O cidadão que ao mesmo tempo canta, toca flalta, violão, escreve as letras e ainda tem toda aquela performance teatral, ali, pertinho de mim. Sem preço. O show começa com a marca registrada do Ian Anderson. Típico britânico. Ironias e sarcamos são o que não faltam no pequeno vídeo de introdução antes de toda a banda entrar no palco fantasiada com boinas e macacões. Típicos britânicos (apesar do guitarrista alemão).

Muito curioso pra assistir a performance ao vivo da obra-prima do Jethro Tull. O meu álbum preferido, ao vivo. Detalhe, o Jethro Tull é uma banda complexa e eclética. Há várias fases. Todas distintas em seus mais de vinte álbuns de estúdio. Em seus mais de quarenta anos de estrada. Há a fase folk, progressiva, pop, dance, blues, jazz, hard rock. O que você imaginar, tem. Difícil, por isso, classificar o estilo do Jethro Tull. Mas não tenho dúvidas que, assim como eu, a grande maioria prefere a fase progressiva. A fama da banda vem dessa fase. As obras-primas, também. Se é bem verdade que o Ian Anderson nunca foi um grande cantor, toda essa carência sempre foi compensada com o talento do cidadão em criar. E sempre sozinho. Saiu da cabeça dele as letras e melodias mais complexas da história do rock. Não eram só as histórias complexas, era a performance ao vivo do cara. Teatral, frenética, fantástica. E assim continua. Se o velho hippie não tem mais o cabelo gigante nem a barba de mendigo, mesmo com seus 65 anos, o cara é um performer único. Ele é a banda. A mente. O cara é um gênio. Simples, assim. E hoje, é também o maior empresário de salmão da Europa. A música, hoje, é um hobbie pro velho Ian. E são mais de 100 shows por ano.

Se ele nunca foi um bom cantor, hoje em dia, com seus 65 anos, isso fica mais evidente. A voz é frágil, falha muitas vezes, falta fôlego. Por isso  mesmo, há um cantor de apoio que canta uma grande parte do Thick as a Brick ao vivo. E nem só pela voz frágil do Ian Anderson, ao vivo, seria impossível o cara tocar ao mesmo tempo, flauta, violão, violino, piano, acordeon e tudo que você mais possa imaginar. Sim, no álbum, o cara fez tudo sozinho. No show, as tarefas foram divididas. O que deixou o Thick as a Brick com uma roupagem diferente. Mas que não tirou nem um pouco o brilho de ter o privilégio de ver e ouvir essa obra-prima.

Tem gente que acha que sou rico por me dar ao luxo de passar meses fora, viajando, acompanhando esses shows. A realidade é diferente, bem diferente. É só perrengue. E me perguntarão, vocês. E por que é que você faz isso? Porque até hoje não sei o que to fazendo nesse negócio que chamam de vida e quanto mais eu pergunto, menos respostas tenho. Pra mim, é tudo uma ilusão com prazo de validade. Então, ao mesmo tempo que nem eu sei o porque faço isso, há uma grande satisfação de acompanhar esses shows dessas minhas bandas favoritas mundo afora. Sempre sozinho. Mil aventuras. No final, é isso que acho que vale a pena. Já que tudo isso é uma ilusão, que seja musicada a rock and roll...

Na volta pra “casa”, o primeiro perrengue da viagem maluca, versão 2012. Caminhar do inóspito local do show pra estação, eu sabia. O lado de volta pra Frankfurt, não. Foi tudo na suposição. A cidade é no fim do mundo e só eu fui de trem? Só eu fui de Frankfurt? Meia hora de caminhada num breu do caralho pra achar o outro sentido da estação. Fui no instinto. Subi uma escadaria escura no meio do nada. Ao menos tinha uma placa com os horários dos trens. O meu estava lá. Bom sinal. Nenhum pé de pessoa. Também, é querer pedir demais, né? Uma cidade, já no cu da Alemanha, numa estação pior ainda e pra completar o kit medo, quase 0h. O trem das 22h56 passou. Ufa! Sentido oposto! Tava no lugar certo. Porém, os das 22h59 não passou. Comecei a ficar aflito. O meu era as 23h26. Já eram 23h30 e nada. Sim, fiquei realmente com medo. Se aquela porra não passasse, eu ali, no meio do nada, esfriando. Porra, gosto de solidão, mas assim, amigão, não tem cu que não estile. 23h31, barulho de trilho, luz...lá vinha o desgraçado do trem. Nunca fiquei tão feliz e aliviado na vida por ver um trem velho e vermelho. O AC/DC escreveu Highway to Hell e o Guns N’ Roses, Night Train, né? Mas quem pegou o trem do inferno fui eu. Caralho!!!

Quase uma hora depois, finalmente de volta à estação central de Hauptbanhoff em Frankfurt. Quando as estações são familiares, você relaxa e sai caminhando de madrugada tranquilo, como se estivesse em casa. Já tava por ali há quatro dias, tinha andado Frankfurt de cabo a rabo, então, assim que cheguei na estação do aeroporto, tudo era familiar. Alguns passos pro albergue e tudo certo. Hora de descarregar as fotos, baixar a adrenalina e dormir. Próximo dia, hora de deixar a Alemanha. Mas pra valer a pena, aventuras tem que ter dessas, né verdade?

As fotos do show, você pode ver aqui:

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.105954269549514.10501.100004048244728&type=3




Jethro Tull’s Ian Anderson plays Thick as a Brick 1 & 2 – Parte I

'Really don't mind if you sit this one out, my words but a whisper, your deafness a shout..."

Londres, Inglaterra


E chegou a hora do nosso primeiro show. Antes de montar essa viagem maluca, fiz e refiz o roteiro várias vezes. Tinha recebido com muita surpresa que haveria uma turnê do Ian Anderson esse ano, onde ele tocaria na íntegra o Thick as a Brick pela primeira vez desde 1972. De longe o melhor álbum do Jethro Tull. E de brinde, tocaria também o Thick as a Brick II, lançado esse ano. Mas a tour só passaria pela Europa e Estados Unidos. Nada de Brasil. Bosta! A minha viagem maluca começaria em junho e pra conseguir pegar esse show, eu teria que antecipa-la em quase três semanas. De última hora, porém, descobri que havia um vôo saindo direto do Hellcife rumo a Frankfurt às sextas. Descobri também que haveria um show em Mainz, que fica a cerca de 45 Km’s de Frankfurt ou 45 minutos de trem. Assumi o risco de fazer o dinheiro (que já tava contado nos centavos) render mais e me virar só pra conseguir ver esse show. Por causa da logística, também deu pra encaixar dois shows do Fish com o Glenn Hughes na mesma noite. Em Londres e Glasgow. Mas estes, ficam pra um próximo post.

Como tudo meu tem que ser um pouco complicado, a primeira aventura foi garantir o ingresso. A Eventim, organizadora do show, não dava a opção de retirar o ingresso na bilheteria. Se escolhesse enviar pro Brasil, além de pagar mais pelo frete do que pelo próprio ingresso, não haveria tempo útil pra chegar antes d’eu viajar. O jeito foi mandar pro albergue que eu ficaria. E o ingresso foi enviado 10 dias antes d’eu chegar. Pra minha surpresa, quando cheguei no albergue, nenhum ingresso havia sido entregue. Entrei em contato imediatamente com a Eventim explicando a situação. Até algumas horas antes d’eu viajar de Frankfurt pra Mainz, onde seria o show, nada resolvido. Aos quarenta e oito do segundo tempo, resolveu. Resolvi entrar numa lan house pra checar meu e-mail poucos minutos antes de entrar no trem. E lá estava uma autorização em PDF. Era só imprimir e apresentar na entrada. Sorte! E se por acaso eu não tivesse checado o e-mail? Vai saber.

Resolvi chegr em Mainz às 17h, três horas antes do show. Segundo o Google Maps, o local do show, Phonix-Halle ficava a 1,3 Km’s da estação de Nord ou cerca de 20 minutinhos a pé. A estação, no meio do nada, nas ruas, nem uma alma. Nenhuma placa, nenhuma indicação. Que beleza. Eu sozinho no meio duma cidadezinha alemã. Resolvi caminhar e achei um posto. Ufa! Me deram umas informações (em alemão!), mas nessas horas, o instinto fala mais alto e meio que você entende sem compreender uma palavra. Umas ruas erradas depois, uns vai e volta, achei o maldito lugar. Quase uma hora depois de me aventurar da estação...

Imagine um show numa entrada dum depósito. Sabe aqueles lugares que os caminhões de mercadorias descarregam suas coisas lá no shopping? Pois bem, algo parecido. E sem nenhuma indicação no local. Pra quem não mora lá, difícil, viu. A cidade já era no fim do mundo e o local, pior ainda. Entrei lá sem fazer a mínima idéia que o show seria lá. De repente, apareceu um cidadão com uma camisa do Jethtro Tull. Bom sinal. Era ali. Bingo. Caralho!!

E aos poucos foi chegando gente. 90% de tiozões e tiazinhas. Grande maioria “d’alemão das brenha”. As 19h em ponto, portas abertas. O local, bacana, boa acústica. Legal, bacana. Mas de lone, foi o local mais estranho onde já vi um show na vida. Primeiro, uma cidadezinha deserta no cu da Alemanha, depois, um local de show mais deserto ainda – um galpão no meio do nada. O mais estranho é que aquela coisa lotou. Quando lá cheguei, era a única alma viva naquela porra. Pouco mais de uma hora e umas 3 mil pessoas lotavam o treco. Jamais apostaria minhas fichas depois duma primeira impressão tão de bosta...

As fotos do show, você pode ver aqui:

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.105954269549514.10501.100004048244728&type=3








Frankfurt, Parte II

"Amanhã numa cidade diferente, não haverá diferença no ar..."

Londres, Inglaterra

Bacana descobrir um vôo direto de Recife a Frankfurt, na Alemanha. Barato, também. 300 euros, ou cerca de 750 reais (dependende dessa porra de câmbio do caralho que não pára de subir!!). E por mais longo que tenha sido (10h...), só o fato de não ter que passar por conexões e escalas, já poupa um enorme estresse e cansaço. Meu pontapé inicial de 2010 durou 3h de espera no aeroporto em Hellcife, mais 3h de vôo rumo a São Paulo, mais 3h de conexão, mais 10h à Madri, mais 1h hora de conexão, mais 1h rumo à Barcelona. Isso sem contar às 4h de atraso em dois vôos e a perda de um por consequência disso. Contou direitinho, né? Isso mesmo, 23h...13h dessa vez (contando as 3h de espera, check in, etc) em apenas um vôo, nada mal, né?!

A propósito, ótimo trabalho da Condor. Sempre bem tratado do início ao fim da viagem. Bom jantar, bom café da manhã, bom lanche. Tinha até vodka, rapaz. E eu achei que teria que pagar por tudo isso já que o vôo era low cust. Dormir, impossível. Em avião, não consigo. No máximo, breves cochilos e nada mais. Apesar disso, até que o vôo passou rápido. Tripulação alemã, muitos passageiros alemães, o que te ajuda e se sentir sempre no mundo da lua por não entender picas do que falam. Faz parte do processo. E ajuda a distrair também...ou apavorar, dependendo do teu estado d’espírito...

E lá vamos à imigração após a recepção dum simpático funcionário do aeroporto de Frankfurt. E não é que o fiscal enfesado quis implicar comigo (parecia com o personagem do filme X-Man)? Mostrei onde ia ficar, quantos dias, a passagem de saída da Alemanha, a passagem de saída da Europa, a passagem de chegada ao Canadá, a passagem de volta ao Brasil, dinheiro, cartão, ingressos, marca da cueca, número de tênis e ainda assim o cara tava desconfiado, até que passou todos os documentos pro vizinho do lado que sem perguntas, carimbou logo o passaporte e me deu as boas vindas. Ow raça, esse povo da imigração, viu. Ow raça. Sempre tem o legal e o carrasco. Os carrascos devem ter o pau pequeno. Aposto com vocês! Mas sem um pouco de tensão não tem graça, né?

Saindo do aeroporto, 15 minutos da estação do próprio aeroporto até a estação central de Frankfurt, Hauptbanhof. Depois, só atravessar a rua e de cara com o albergue. Quando você viaja sempre sozinho, é sempre estressante a quantidade de informação que tem que carregar na cabeça, cada passo que você vai dar. Quanto tempo, se fica perto, longe, fácil, difícil, se fica perto de estações, supermercados, pontos turísticos, centro da cidade, etc. Sendo assim, albergue mais perfeito impossível. Todos os dias em que lá estive, não usei transporte. Tudo a pé. Comida, no máximo 3 euros por dia. Café da manhã generoso e jantar idem, inclusos na diária. Quartos limpos, banheiros, idem. A única coisa ruim era a internet no lounge e ruim. Pra quem é anti-social, ter que encarar um bando de gente toda hora de usar a internet assim como o café da manhã e jantar, era uma pequena tortura, mas nada pode ser perfeito, né?


Frankfurt, Alemanha

"I'm on the highway to hell..."

Londres, Inglaterra

Depois de pouco menos de dois anos, cá estamos, de volta à estrada fora do Brasil. Desde que comecei essa brincadeira de viajar, ali por 2007, não parei mais. Mas sempre viagens nacionais que se limitavam a assistir shows em São Paulo. E foram 10 vezes nos últimos cinco anos. Saindo de São Paulo, o máximo que fui foi ao Rio de Janeiro e Porto Alegre. Minas Gerais, Brasília e Salvador não contam, pois foram só conexões.

A minha mais ambiciosa (diga-se maluca) aventura, até então, foi a viagem maluca de 2010 (apelidada assim, carinhosamente). 15 países, 35 cidades. A primeira vez fora do país a gente nunca esquece, né? Ainda mais nesses moldes. Foram longos três meses. Shows, festivais, turismo. Vôos, trens, ônibus. Acampamentos. Gente nova. Primeira vez em tudo isso. Sempre sozinho. Muitos perrengues. Efeitos colaterais ($$) até hoje. Poucos mas bons amigos. Sempre ajudando. Fieis. Bons corações. Apesar da solidão na estrada (que pra mim não é tristeza), os meses mais malucos e felizes da minha vida.

Desde então, fui tentando encontrar uma maneira de repetir a dose. Mas não sou nenhum milionário nem herdeiro de nenhuma fortuna. Assim como você, cara pálida, sou só mais uma que precisa trabalhar pra sobreviver. 8h de chicote diários, cinco ou seis dias por semana. Fazendo sempre aquele mesmo processo mecânico que me faz morrer por dentro.  Fazendo o que não quero, convivendo com quem não quero. Durou pouco a vida real. Menos de seis meses. Resolvi então, após dois anos, embarcar numa outra aventura. Um pouco mais curta dessa vez. Dois meses. Menos países e cidades, também. Sete e dezoito respectivamente.  E com um enorme detalhe. Experiência.

Alguns meses de planejamento, horas e horas tentando descobrir as rotas sempre mais baratas e fáceis. E tentando encaixar tudo no quesito tempo. Shows, festivais, cidades. Muito pouco dinheiro, muita falta de juízo, uma pitada de irresponsabilidade misturada com coragem e inconsequência e está feito o roteiro. Lá vamos nós, novamente à imprevisível e misteriosa, estrada. O mais legal de tudo é que, por mais planejados que estejam meus passos ao longo de dois meses, a próxima curva, a gente nunca sabe...