25 de agosto de 2010

Iron Maiden, Pukkelpop Festival, Bruxelas, Bélgica - 19/08/2010

“When you know that your time is closed in, maybe then you begin to understand that life down is just a strange illusion...”


Valência, Espanha


Nossa passagem por Bruxelas, Bélgica, envolve muito sentimentos, momentos extremos de agonia e mudanças profundas de rotas de viagem e vida. Sentimentos que foram da contemplação absoluta pela beleza do lugar, assim como sentimento de pavor, agonia, sufoco, caos, fim da linha. Tudo ao mesmo tempo agora. Após toda decepção italiana, as coisas teriam que melhorar na Bélgica e, começaram muito boas. Tadinho de mim, mal sabia o que iria acontecer em tão pouco tempo. Mal sabia o sufoco que estava prestes a viver dali a tão pouco tempo. Cheguei ao minúsculo aeroporto Charles Leroy e a primeira impressão foi péssima. Ele conseguiu ser menor e pior que o de Bergen, Noruega. Não tinha casa de câmbio, um setor de informações que pouco informava e muito, mas muuuito cheio. Cheguei por volta das 10h45 da quinta, 19 de agosto e, o que menos queria era ir logo pro festival e esperar horas e horas pelo show do Maiden que só aconteceria às 20h30. Mas, como não tinha nada pra fazer naquele aeroporto de merda que e nem internet tinha (se quisesse usar, eram dez euros por uma hora ou cinco euros por duas, dá pra entender?), o jeito foi me mandar mesmo. Descobri que teria que pegar um caro ônibus de dois euros e setenta até a estação, pra, de lá, pegar um trem gratuito pro festival. Trem bacana, igual ao da Suíça, de primeiro andar, ar condicionado, rápido, carregador...só faltou acesso wi-fi gratuito à internet. Super bacana. Primeira impressão da Bélgica: pessoas. Ótimas, fui super bem-tratado, todo momento por pessoas que sempre falavam inglês e eram simpáticas e solícitas. Bonitas também. Da estação, descobri que o trem demoraria “apenas” 2h30 pra chegar ao local do festival. A tradição dos festivais europeus continua. Sempre em locais lá depois da puta que o pariu.







Antes de pegar o trem, descobri um mini-carrefour perto da estação e lá fui comprar comida. Não tão barata quanto eu esperava, mas eu não tinha muita opção. Comprei o de sempre, pão, queijo, banana, biscoito...nada de luxuoso, apenas o necessário pra sobreviver. Após comer um pouco, fui pegar o trem. Cheguei ao local do show às 17h. Fazia um céu de brigadeiro na Bélgica, mas fazia frio também. Cerca de 20° com um ventinho congelante que aumentava a sensação de frio. Fui ficando impressionado com a quantidade de mulher bonita que havia no local. Alemanha e Inglaterra que me perdoem, mas a Bélgica foi, de longe, o lugar onde mais vi mulher bonita na vida. E, o Pukkelpop Festival, também, foi de longe o festival mais bonito que vi aqui no velho continente nessa minha viagem louca e sem noção. Era interessante perceber que só havia banda bosta no festival, a maioria desconhecida no Brasil. Na noite do Maiden, idem e, pra completar a estranhesa, o Blink 182 abriria pro Maiden. Muito, muito estranho. Assim como na Irlanda, percebi que a velha guarda tava em segundo plano. O que havia mesmo era um lote de fãs pivetes, muitos deles, irritantes. Havia também, a parte mais chata desses festivais de verão europeus, uma graande parte de cuzões bêbados que não conhecem a banda e estão lá apenas por diversão. Parece que tenho imã pra esses idiotas e, tive que mudar de lugar umas quatro vezes pra não estourar com esses imbecis. Enconstam em mim e vou dando passos pro lado pra me afastar, mas parece que os desgraçados me seguem. E continuam vindo ao meu encontro. Há horas que falo em inglês e português pra, por favor, se afastar um pouco, que já fiz isso várias vezes e o cidadão continua vindo. Gostou de mim pra ficar me tocando, ow caralho??

Após dar uns empurrões em alguns e começar a ficar realmente puto, decidi sair antes de arrumar confusão. Viagens constantes, dias sem dormir, horas de espera em estações e aeroportos, mal-alimentado, cansado, no fio da navalha...é muito fácil estourar e perder o controle. Muito fácil. Quando se está operando no fio da navalha, o risco do corte profundo-irreversível é tênue. Fui então me acomodando e logo descobri um lugarzinho do outro lado, o esquerdo, pertinho do palco, com pessoas ao redor que realmente gostavam da banda e respeitavam o lugar do outro. Pulavam, curtiam, mas não ficavam naquele irritante empurra-empurra. Era a velha-guarda.

Acho que foi a noite da redenção pro Maiden. Se o show da Itália havia sido uma bosta em todos os sentidos, a noite pintava como diferente na Bélgica. A banda trouxe o bonito, futurista e completo jogo de iluminação que foi a parte mais importante do cenário dessa nova pré-turnê do The Final Frontier. O Pukkelpop montou um palco decente e não esqueceu os telões como a Itália e as coisas foram caminhando assim. Muito boas. Bruce entrou com muuuita vontade, totalmente diferente do show da Itália e isso foi claramente visível. E a resposta do público também foi muito boa o que, acabou animando Bruce e o restante da banda. Pela primeira vez nesses meus já doze shows do Maiden, vi o Steve Harris brincar com o Bruce no palco e dar uma puxadinha na orelha do baixinho na execução da Iron Maiden. Bruce, por sinal, reagia com mais energia, piadas e sorrisos quanto mais o público lhe empolgava. E teve algo diferente naquela noite. Toda a banda estava extremamente feliz. Talvez empolgada com o sucesso das vendas do recém-lançado The Final Frontier que já é primeiro em vários países como Finlândia, Alemanha, Inglaterra, Noruega, etc. A banda toda estava feliz, radiante, risonha, até o Adrian Smith que é o mais sério, brincou, sorriu, se divertiu. A banda devolveu o carinho do público com uma performance fantástica o que apagou totalmente o péssimo, sem sal e ridículo show da Itália. A banda conseguiu unir a beleza do povo belga, assim como os cenários lindos da Bélgica ao, igualmente fantástico, show da Finlândia, aquele que foi heróico por ter acontecido depois do temporal, lembram? De longe, disparados os dois melhores shows desse ano. Tão belo quanto o caminho de ida pro show. A paisagem que se mostrava pelas longas janelas do trem era inacreditavelmente linda. Certamente, a Bélgica será um dos países que farei questão de voltar num futuro, espero, que não muito distante.

Após o show, por volta das 22h30, saí correndo pra estação pra chegar lá umas 23h e dar sorte de pegar o último trem e, de lá, voltar pro aeroporto. Sem sucesso. Fiquei sabendo pelos guardinhas que o próximo só sairia as 05h30. Fodeu! Onde iria dormir? Não teve jeito. Tive que comprar um Red Bull de 500 ml por três euros e esperar mesmo. Longas horas. Sem ter onde dormir dessa vez, pois a estação era ali depois do meio do nada e não tinha onde dormir, pois o piso era de terra. Tentei dormir num banheiro químico que estava limpo, mas, sem condições. Desisti. Muito simpáticos os guardinhas da estação. Todos da mesma idade que eu. Os belgas ganham tão bem assim? Um deles tinha uma Mercedes, os outros, bicicletas. Bicicletas, a propósito, são um meio de transporte bem comum na Bélgica. No show, havia um estacionamento só pra elas. Estava lotado, hehe. Fiquei conversando por longas horas com os simpáticos guardinhas. A Bélgica é um país bilíngüe. Alguns falam francês, outros, alemão, mas, todos falam inglês fácil, o que ajuda bastante a nossa vida de turistas. Como não tinha nada pra fazer, a diversão acabou sendo ver os policias belgas multando os bêbados que atravessavam a linha do trem ao invés de usar a passarela. Cada um dos infelizes que foram pegos levou pra casa uma nada simpática multa de trezentos e cinqüenta euros. Falta de aviso pra não atravesar, não faltou...

A noite ficou gelada e chegou aos 8°. E eu havia perdido a jaqueta, lembram? O jeito foi apelar pra quatro camisas e o impermeável doado pelo amigo polonês no temporal da Inglaterra, na época do Download Festival. O que ajudou um pouco. Pra ser honesto, salvou minha vida. Sagrado seja esse impermeável que tinha uma parte que protege o pescoço e um capuz. Sim, tava frio até pra respirar e congelando até as orelhas. O impermeável quebrou um galhão. E o trem, finalmente, chegou. Lá íamos pra uma viagem de mais de duas horas pra estação, pra de lá, pegar um ônibus de cerca de meia hora pro aeroporto. Até que o tempo passou rápido, mas aí o meu inferno particular começou. Cheguei ao aeroporto e desconfiei que meu vôo não sairia dali. Pois, no painel, não vinha nenhum vôo da Vueling que era minha companhia dessa vez. Fui às informações e descobri que o mesmo sairia do aeroporto principal da Bélgica, o National. Tava na cara que tava estranho demais a Bélgica ter um aeroporto tão vagabundo e pequeno daquele. As coisas realmente se complicaram pra mim. A casa caiu. Ao tentar sacar dinheiro, descobri que três depósitos que deveriam cair na quinta, não caíram e eu estava completamente sem dinheiro. No bolso, apenas 12 euros e 5 pounds que ninguém trocava. A passagem de ônibus pra estação custava 13 euros e de lá, ainda teria que pegar um trem que custaria mais 7 euros. Fodeu!! Não tinha o que fazer e começou a bater o desespero. Ficaria preso na Bélgica, sem ter como sair de lá, pois estava sem dinheiro e não tinha como entrar em contato com ninguém, pois estava sem celular e pra usar a internet naquele aeroporto de bosta, tinha que pagar 10 euros. Tentei manter a calma, por mais delicada que fosse a situação e tentei achar uma saída. O que faria? Tentaria carona? Negociaria com algum taxista, apelaria sair pedindo dinheiro na cara dura mesmo às pessoas? O que fazer? É muito difícil pensar em soluções pra esse tipo de problema quando está sozinho, num país estranho e sem ninguém conhecido por perto pra te ajudar. Acabei optando por procurar a polícia do aeroporto e explicar o problema. Muito compreensivos, me levaram pra uma salinha escondida da polícia no aeroporto e me deixaram usar a internet e foi aí que consegui entrar em contato com um amigo que conseguiu encontrar em contato com a minha mãe pra transferir cinqüenta reais pra minha conta de forma urgente. Tinha que ser na boca do caixa pro dinheiro entrar na hora. A minha agonia era imensa na Bélgica. Até esqueci os celulares dos meus pais e o telefone de casa. Acho até que confundi com o de uma amiga. Mas tinha que manter a calma, o sangue frio, por pior que fosse a situação. Ah, eu estava com fome e sede e, claro, não podia comer nem beber nada. Mas vamos por partes e tentando enxergar tudo, sempre pelo lado bom. O principal é que conseguira transmitir à mensagem de socorro a amigos e aos meus pais. Agora, era esperar que conseguissem depositar a tempo, tudo desse certo e eu conseguisse sacar. Esperei uma hora e fui ao caixa eletrônico, piando o cu, tentar sacar o dinheiro. Longos segundos de expectativa no processo do saque. Se não fizesse o barulhinho da máquina da contagem das cédulas, eu realmente estava fodido!! Realmente fodido. Nadando em merda. Como queiram. Por um milagre divino, o dinheiro sagrado dos meus pais havia entrado a pouco, o saquei, suando frio, mas aliviado e fui imediatamente comprar as passagens pro aeroporto National. Lá na puta que o pariu, cerca de duas horas e, agora, fazia um calor digno de Hellcife na Bélgica. Sol escaldante, calor infernal, nenhum vento. Minha sorte foi ter descoberto que o vôo sairia do outro aeroporto, 24h antes. E sendo assim, eu tive esse tempo todo pra resolver o pepino. Já pensou se não tivesse percebido isso? Pra foder tudo, ainda perderia o vôo, o último show do Maiden e estaria preso na Bélgica sem comida, água, dinheiro, nada...Saí do minúsculo aeroporto por volta das 15h da sexta, dia 20 de agosto, e sei que, naquelas difíceis horas de tensão, envelheci dez anos ou mais. Era eu e eu mesmo pra agüentar a barra. Uma prova de fogo pra mim mesmo. Mas, pensamento positivo sempre. Eu criei um dispositivo dentro de mim que simplesmente ignora o “e se dar errado”, eu não aceito isso e penso sempre: “vai dar certo”. E acaba dando. Simplesmente elimino que, por um momento, as coisas podem dar errado. Eu simplesmente não aceito essa realidade. O importante é que havíamos conseguido como chegar ao outro aeroporto e de lá, esperar o vôo pra Valência, Espanha. Essa, já era uma vitória imensa. Depois do caos que vivi, isso era um milagre e eu tinha que agradecer por isso. A sorte que nunca me acompanhou, não tem largado do meu pé nessa viagem. Não posso reclamar. Aprendi a viver um dia de cada vez e, por mais delicada que seja a situação, por maior que seja o problema e pareça sem solução, é preciso manter a calma, o sangue frio e o pensamento positivo que tudo irá se resolver, por mais que a vontade e o desespero quase te obrigem a gritar, chorar, sair correndo, ter uma crise histérica-nervosa-sem-noção, hehe. Desistir, se desesperar e pensar negativamente, nada vai resolver, só piorar o que já está delicadíssimo. Tenho aprendido a ser uma espécie de super-homem e por na cabeça que, por mais difícil que seja a situação, eu vou dar um jeito. Não sei como, mas vou. Uma espécie de McGyver. Chegamos ao aeroporto National de Bruxelas por volta das 17h. Quanta diferença pro que eu estava...O aeroporto National da Bélgica é simplesmente gigantesco. Esteiras pra todos os lados, escadas e mais escadas, caso de câmbio, dá até pra brincar de pega, andar de bicicleta, fazer Cooper. De tubo um pouco. Tem lugar pra carregar celular ou notebook a cada 10 metros e toda estrutura que um grande aeroporto deve ter. Como meu vôo só sairia as 9h30 do dia seguinte, sábado, 21 de agosto, e a única coisa que eu podia era esperar, decidi desligar a cabeça e dormir. Havia cadeiras acolchoadas num lugar calmo do aeroporto e ali foi onde decidi dormir, assim como mais uma caralhada de gente. O dia tinha sido tão estressante, tão delicado, que simplesmente deitei e dormi. Mesmo com duzentos mil problemas pra resolver ainda, simplesmente deitei e dormi. No próximo dia eu deixo pra pensar quando ele chegar. Não sei o que vai acontecer, mas a primeira saída que me veio a mente é desistir da Holanda e da uma semana que ficaria lá, assim, infelizmente perco a passagem, mas economizo muito em albergue, transporte e alimentação, corto também a uma semana na Dinamarca e salvo os mesmo detalhes da Holanda, corto os poucos dias em Oslo na Noruega pra seguir o plano de emergência e, por último, corto os Gp’s da Bélgica e Monza de Fórmula 1 e, tenho voltar à Barcelona, casa do meu amigo Calumby e lá, um porto seguro, com calma, tentar antecipar minha volta ao Brasil e saber o quanto isso vai custar. Preciso saber também qual o melhor meio de chegar a Madri sem ser tão caro, pois minha passagem está marcada apenas pra 14 de setembro e aqui na Europa não tem essa coisa de mudar passagem. Meu vôo da TAM sai de Madri, por isso, preciso, antes, sair de Barcelona. Também preciso, antes, chegar à Barcelona, a partir de domingo, seja de trem ou ônibus, o que for mais barato e possível. O importante é chegar à Barcelona e lá, na casa do meu amigo Calumby, e, com calma, resolver os pepinos. Pensamento positivo. Amanhã, quando acordar, tudo dará certo. Preciso, pro meu próprio bem, assim pensar. Não posso me desesperar. Preciso ser forte e manter o sangue frio. Vamos ver o que o amanhã me reserva, pessoas. Tenho que aproveitar o fato de estar indo pra Valência, Espanha, hoje, ver o último show do Maiden esse ano e aproveitar o fato de ficar a menos de 400 Km’s de Barcelona e custar relativamente pouco, desde que usando ter, ou ônibus. Tenho que aproveitar o fato de já ter passagem comprada pra lá e, de lá, aproveitar a proximidade que vou estar de Barcelona. O primeiro passo, foi conseguir chegar ao aeroporto National. Deu certo. O segundo, é chegar à Valência. Quase lá. O terceiro, já em Valência, é dar um jeito de chegar à Barcelona. E no momento, tenho só mais 15 euros na carteira o que, acho, vai ser insuficiente pra comprar uma passagem, mesmo que de ônibus, pra Barcelona. Não sei como vou resolver esse pepino, mas preciso crer que dará certo mais uma vez. Não posso sequer, pensar na possibilidade de dar errado. Por enquanto, é isso, pessoa. Tudo de bom e cuidem-se. E torçam por mim, pois, nunca precisei tanto, hehe, de bons pensamentos, como agora, hehe.

Set List

01. Intro: Doctor Doctor - The Wicker Man
02. Ghost Of The Navigator
03. Wrathchild
04. El Dorado
05. Dance Of Death
06. The Reincarnation Of Benjamin Breeg
07. These Colours Don't Run
08. Blood Brothers
09. Wildest Dreams
10. No More Lies
11. Brave New World
12. Fear Of The Dark
13. Iron Maiden

Bis

14. The Number of the Beast
15. Hallowed Be Thy Name
16. Running Free

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