3 de outubro de 2010

Pouca Vogal, Teatro da UFPE, Recife, Brasil - Parte II - 02/10/2010

"Somos o que há de melhor. Somos o que dá pra fazer. O que não pra evitar e não se pode escolher..."

Recife, Brasil

Honestamente não me importo de sair sozinho, principalmente quando vou assistir aos shows das minhas bandas preferidas. É um negócio pessoal. Sozinho, posso observar tudo da minha forma sem ninguém ao lado distraindo minha atenção. É sempre bom estar com amigos, é claro, mas shows pra mim são sagrados. Uma viagem pessoal. Preciso de solidão. Como diz uma canção dos mesmos Engenheiros: "Tô fora, sigo o meu caminho, às vezes tô sozinho, quase sempre tô em paz..."

Sendo assim, sozinho, lá fui nessa noite de sábado, dia 02 de outubro de 2010, véspera de eleições. Históricas, eu diria. Mais um presidente. Talvez a primeira presidente mulher na história do país. Deixemos a política de lado e voltemos ao show. Teatro lotado. Ótimo sinal. Não faço a mínima idéia de quantas pessoas compareceram ao show do Pouca Vogal, mas, no puro chutômetro, diria que entre 3 e 5 mil pessoas tiveram o privilégio de ver e ouvir esse excelente projeto do Humberto Gessinger e do Duca Lendecker. Esses caras são genias. Sim, não há outra palavra pra descreve-los. O Duca, com sua linda e suave voz de veludo, toca violão, guitarra, pandeiro e bumbo. Sim, tudo isso ao mesmo tempo. Pra não deixar de lado, o Humberto consegue superar isso, além de cantar, o desgraçado toca gaita, violão, guitarra, midi pedalboard que nada mais que é um teclado de pé que usa todos os sons que vocês podem imaginar, baixo, teclado, piano, o caralho. E, pra completar, ainda tem os teclados normais e a harmônica. É muito, mas muuuito interessante e impressionante como apenas dois caras tocam tantos intrumentos ao mesmo tempo. Incrível. Por isso, não há outra palavra pra descrever esses caras que não geniais. Não é exagero dizer que certos músicos estão num outro nível. Não são pessoas normais. Literalmente. Há uma magia especial nesses seres.




Com um simples, porém lindo e de muito bom gosto, o cenário com sua igualmente linda iluminação, apresentava um enorme pano de fundo com os ('') símbolo do Projeto Pouca Vogal, parênteses e apóstrofos em cores azul claro e branco, clara aluzão ao amado time de futebol de Humberto Gessinger, o Grêmio Porto Alegrense. No palco, um sempre bem-humorado Humberto Gessinger brincava com o público dizendo que naquela noite, eles iriam tocam muita coisa das bandas preferidas deles, Britney Spears e Lady Gaga, pra risos espôntaneos de um público fiel. Mais na frente, mais brincadeiras, o Humbertão dizendo que nós, pernambucanos, seríamos bem-vindos em Porto Alegre e, eles gaúchos, apesar de terem fama, não mordiam. Ou melhor, às vezes mordiam. Mais risos. Inclusive os meus. O Duca, com toda sua timidez, pouca falava, mas muito sorria.

Os imortais clássicos dos Engenheiros do Hawaai não faltaram, claro. Terra de Gigantes, Infinita Highway, Refrão de Bolero, Somos quem Podemos Ser, Piano Bar, Parabólica, etc. E claro, coisa nova do Pouca Vogal como Depois da Curva (linda música pra abrir um show, por sinal), Breve, Dia Especial, Pinhais, Ao Fim de tudo, etc. Um show de pouco mais de uma hora e meia com dois bis. Simples, sem frescura. Apenas dois grandes músicos e várias grandes músicas e, porque não, um grande público e apaixonado público pernambucano ilustrando um ótimo show.

Grandes shows, nem sempre precisam de uma produção magalomaníaca. Às vezes, esses pequenos shows, sem muita frescura, apenas os músicos o público e a música, como deveria sempre ser, são muito mais nostálgicos e impressionantes que qualquer mega-produção. Que adiantar ter uma produção fantástica se a música acaba sendo apenas fachada, né U2? Esses dois gaúchos, com seus tentáculos, tocando 700 instrumentos cada, conseguem, apenas por eles mesmos e com toda sua sensibilidade emocionar a todos apenas com a essência da sua música. Fantástico show. Simplesmente Pouca Vogal. Que venha o próximo e quem, em breve, com o Engeheiros do Hawaii saindo do coma. No próximo ano, haverá o Rock in Rio IV. Na primeira edição do festival, em 1985, a banda fez seu primeiro show. Na segunda edição, em 1991, se apresentaram no seu auge. E na terceria e última edição, em 2001, lá estavam eles novamente. No próximo ano, uma reunião da formação clássica a caminho? Um passarinho contou? Quem sabe?

PS: A quem não conhece, indico o livro do Humbertão "Pra Ser Sincero". http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=5088689&sid=87781116512916595916514374&k5=10D449C5&uid= Pode ser encontrando nas melhores livrarias. Quem quer reviver os tempos clássicos da banda, há este blog feito por um fã com bastante material clássico da banda: http://enghawforever.blogspot.com/

Pouca Vogal, Teatro da UFPE, Recife, Brasil - 02/10/2010

"Na verdade nada é uma palavra esperando tradução..."

Recife, Brasil

O nome desse blog surgiu de uma canção do Engenheiros do Hawaii, escrita pelo genial Humberto Gessinger chamada "Somos quem podemos ser". O refrão diz: "Somos quem podemos ser...sonhos que podemos ter..." Isso tudo tinha a ver com a proposta do Blog que era relatar que nós podemos sonhar e realizar nosso sonhos. Não importa o quão difíceis e impossíveis eles sejam. Acreditando em si, pode-se tudo. Principalmente o impossível.

Hoje, tive o privilégio de, dezoito longos anos depois, assitir a um show desse gaúcho genial com o seu novo projeto chamado "Pouca Vogal" em parceria com o também gaúcho Duca Leindecker, enquanto o Engenheiros do Hawaii está em coma no momento. O primeiro show, no auge do Engenheiros do Hawaii, na turnê do álbum verde, Várias Variáveis, em janeiro de 1992 no estacionamento do Shopping Center Recife, foi o primeiro show de uma banda que fui na vida. Tinha apenas nove aninhos de idade e fui com um primo mais velho na época. Sendo assim, foi mais do que especial este show. O primeirão.

Dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece e, assim foi com o Engenheiros do Hawaii. Estávamos no final de 1990 e eu, então com apenas oito aninhos, ouvi no rádio uma música chamada "Era um garoto que como eu amavas os Beatles e os Rolling Stones" e logo me apaixonei. Paixão a primeira ouvida. Eles tavam acabando de lançar o clássico "O papa é pop", e essa música, releitura dos Incríveis estourou na época e fez a banda estourar de vez no país. Passei a amar uma banda pela primeira vez na vida. Colecionar os então LP's, revistas, K7 e etc. Apesar de ainda ser muito criança e não compreender a complexidade de uma letra dos Engenheiros do Hawaii, algo aquela banda tinha de especial para mudar a vida daquele eu guri de oito aninhos de idade, hehe. Me pegou em cheio. Me atingiu como um trovão.

Os anos se passaram e o fã mirim só ficou mais e mais apaixonado pela banda. Acompanhei em tempo real os lançamentos da trilogia e, de longe, melhor fase da banda: O papa é pop, Várias Variáveis e Gessinger Licks & Maltz. Vi pela TV em transmissões ao vivo, dada minha pouca idade, os históricos shows no Rock in Rio II de 1991 e Hollywood Rock de 1993. Além do, já citado aí em cima, primeiro show ao vivo em 1992. Depois disso, veio o ano de 1993, o lançamento do ao vivo Filmes de Guerra, Canções de Amor, houve divergências na banda e a clássica formação do trio: Humberto Gessinger, Augusto Licks e Carlos Maltz se desfez. A banda nunca mais foi a mesma. Fiquei bem triste na época e deixei de acompanhar. Meu último álbum foi o "Simples de Coração" de 1995 já com outra formação. Mas ainda preservando o Carlos Maltz. Este é um excelente álbum, mas não tem mais a mágica do trio. Nessa mesma época, conheci o Iron Maiden e meu amor pelo Engenheiros do Hawaii foi abandonado. Traí os gaúchos, me apaixonei por uma outra banda. Me senti mal na época, mas, fazer o que? Acontece. Pela primeira vez na vida, entendi que o amor, se não acaba, às vezes, se distrai com uma nova descoberta, hehe.

Os anos se passaram, meu amor pelo Iron Maiden cresceu e superou o dado então ao Engenheiros do Hawaii. Cresceu enormemente e o amor virou religião, estilo de vida, matrimônio. Me casei de corpo e alma com a lenda inglesa do heavy metal e traí o meu primeiro amor, os gaúchos dos Engenheiros do Hawaii. Enquanto meu amor pelo Maiden crescia e se tornava sério a ponto d'eu conhecer todos os álbuns, singles, vídeos, livros e me tornar um expert no assunto, o interesse pelos Engenheiros diminuiu a ponto d'eu deixar de acompanhar a banda. Só fui voltar a ouvi-los nos idos de 2005 quando a banda já tinha gravado os últimos quatro álbuns de estúdio com novas formações: "Minuano", "Tchau Radar", "Surfando Karmas & DNA" e "Dançando no Campo Minado". Fiquei, honestamente, bem decepcionado com os álbuns atuais. Não que eles fossem ruins, pois essa é uma palavra que não existe na música da banda, mas pra quem, literalmente cresceu ouvindo "O Papa é Pop", "Várias Variáveis" e "Gessinger, Licks & Maltz" é uma tremenda diferença ouvir estes últimos álbuns da mesma forma.

Porém, resolvi considerar meu primeiro grande amor e decidi ouvir os últimos álbuns com mais atenção e o amor foi voltando, ressurgindo. Há muita coisa boa neles. Não é brutalmente clássico e genial como a trilogia, mas, a genialidade parida por Humberto Gessinger, lá continua. No começo do ano, em março, fui acompanhar os shows do Guns N' Roses em São Paulo e no Rio e decidi prolongar minha viagem e realizar um desejo antigo, conhecer Porto Alegre, terra do Humbertão. Haveria um show do Dream Theater lá, logo depois do Guns N' Roses no Rio. Por sinal, o Guns também tocaria em Porto Alegre no mesmo dia do show do Dream Theater. Decidi abrir mão do Guns, pois já havia os visto e ver o Dream Theater. Mas a verdade mesmo é que eu queria muito mais conhecer Porto Alegre que ver o Dream Theater. Uni o útil ao agradável e lá fiquei, na capital gaúcha, por pouco menos de uma semana. Voltei de lá com o CD e o DVD do Pouca Vogal e livro do Humbertão, "Pra ser sincero". Meu amor voltou. Meu interesse idem. Foi um grande privilégio assistir ao show do Pouca Vogal hoje a noite por todos esses motivos. Vamos falar melhor desse concerto no próximo post.