24 de maio de 2012

Jethro Tull’s Ian Anderson plays Thick as a Brick 1 & 2 – Parte I

'So you ride yourselves over the fields, and you make all your animal deals, and your wise men don't know how it feels, to be Thick as a Brick..."

Londres, Inglaterra

Apenas cadeiras, tudo muito comportado. Show estranho, já disse, né? Ao menos fiquei perto. Quinta fila. Duas pernas de distância de Mr. Ian Anderson. A lenda do Jethro Tull ali, pertinho. O cidadão que ao mesmo tempo canta, toca flalta, violão, escreve as letras e ainda tem toda aquela performance teatral, ali, pertinho de mim. Sem preço. O show começa com a marca registrada do Ian Anderson. Típico britânico. Ironias e sarcamos são o que não faltam no pequeno vídeo de introdução antes de toda a banda entrar no palco fantasiada com boinas e macacões. Típicos britânicos (apesar do guitarrista alemão).

Muito curioso pra assistir a performance ao vivo da obra-prima do Jethro Tull. O meu álbum preferido, ao vivo. Detalhe, o Jethro Tull é uma banda complexa e eclética. Há várias fases. Todas distintas em seus mais de vinte álbuns de estúdio. Em seus mais de quarenta anos de estrada. Há a fase folk, progressiva, pop, dance, blues, jazz, hard rock. O que você imaginar, tem. Difícil, por isso, classificar o estilo do Jethro Tull. Mas não tenho dúvidas que, assim como eu, a grande maioria prefere a fase progressiva. A fama da banda vem dessa fase. As obras-primas, também. Se é bem verdade que o Ian Anderson nunca foi um grande cantor, toda essa carência sempre foi compensada com o talento do cidadão em criar. E sempre sozinho. Saiu da cabeça dele as letras e melodias mais complexas da história do rock. Não eram só as histórias complexas, era a performance ao vivo do cara. Teatral, frenética, fantástica. E assim continua. Se o velho hippie não tem mais o cabelo gigante nem a barba de mendigo, mesmo com seus 65 anos, o cara é um performer único. Ele é a banda. A mente. O cara é um gênio. Simples, assim. E hoje, é também o maior empresário de salmão da Europa. A música, hoje, é um hobbie pro velho Ian. E são mais de 100 shows por ano.

Se ele nunca foi um bom cantor, hoje em dia, com seus 65 anos, isso fica mais evidente. A voz é frágil, falha muitas vezes, falta fôlego. Por isso  mesmo, há um cantor de apoio que canta uma grande parte do Thick as a Brick ao vivo. E nem só pela voz frágil do Ian Anderson, ao vivo, seria impossível o cara tocar ao mesmo tempo, flauta, violão, violino, piano, acordeon e tudo que você mais possa imaginar. Sim, no álbum, o cara fez tudo sozinho. No show, as tarefas foram divididas. O que deixou o Thick as a Brick com uma roupagem diferente. Mas que não tirou nem um pouco o brilho de ter o privilégio de ver e ouvir essa obra-prima.

Tem gente que acha que sou rico por me dar ao luxo de passar meses fora, viajando, acompanhando esses shows. A realidade é diferente, bem diferente. É só perrengue. E me perguntarão, vocês. E por que é que você faz isso? Porque até hoje não sei o que to fazendo nesse negócio que chamam de vida e quanto mais eu pergunto, menos respostas tenho. Pra mim, é tudo uma ilusão com prazo de validade. Então, ao mesmo tempo que nem eu sei o porque faço isso, há uma grande satisfação de acompanhar esses shows dessas minhas bandas favoritas mundo afora. Sempre sozinho. Mil aventuras. No final, é isso que acho que vale a pena. Já que tudo isso é uma ilusão, que seja musicada a rock and roll...

Na volta pra “casa”, o primeiro perrengue da viagem maluca, versão 2012. Caminhar do inóspito local do show pra estação, eu sabia. O lado de volta pra Frankfurt, não. Foi tudo na suposição. A cidade é no fim do mundo e só eu fui de trem? Só eu fui de Frankfurt? Meia hora de caminhada num breu do caralho pra achar o outro sentido da estação. Fui no instinto. Subi uma escadaria escura no meio do nada. Ao menos tinha uma placa com os horários dos trens. O meu estava lá. Bom sinal. Nenhum pé de pessoa. Também, é querer pedir demais, né? Uma cidade, já no cu da Alemanha, numa estação pior ainda e pra completar o kit medo, quase 0h. O trem das 22h56 passou. Ufa! Sentido oposto! Tava no lugar certo. Porém, os das 22h59 não passou. Comecei a ficar aflito. O meu era as 23h26. Já eram 23h30 e nada. Sim, fiquei realmente com medo. Se aquela porra não passasse, eu ali, no meio do nada, esfriando. Porra, gosto de solidão, mas assim, amigão, não tem cu que não estile. 23h31, barulho de trilho, luz...lá vinha o desgraçado do trem. Nunca fiquei tão feliz e aliviado na vida por ver um trem velho e vermelho. O AC/DC escreveu Highway to Hell e o Guns N’ Roses, Night Train, né? Mas quem pegou o trem do inferno fui eu. Caralho!!!

Quase uma hora depois, finalmente de volta à estação central de Hauptbanhoff em Frankfurt. Quando as estações são familiares, você relaxa e sai caminhando de madrugada tranquilo, como se estivesse em casa. Já tava por ali há quatro dias, tinha andado Frankfurt de cabo a rabo, então, assim que cheguei na estação do aeroporto, tudo era familiar. Alguns passos pro albergue e tudo certo. Hora de descarregar as fotos, baixar a adrenalina e dormir. Próximo dia, hora de deixar a Alemanha. Mas pra valer a pena, aventuras tem que ter dessas, né verdade?

As fotos do show, você pode ver aqui:

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.105954269549514.10501.100004048244728&type=3




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