Londres, Inglaterra
Apenas
cadeiras, tudo muito comportado. Show estranho, já disse, né? Ao menos fiquei
perto. Quinta fila. Duas pernas de distância de Mr. Ian Anderson. A lenda do
Jethro Tull ali, pertinho. O cidadão que ao mesmo tempo canta, toca flalta,
violão, escreve as letras e ainda tem toda aquela performance teatral, ali,
pertinho de mim. Sem preço. O show começa com a marca registrada do Ian
Anderson. Típico britânico. Ironias e sarcamos são o que não faltam no pequeno
vídeo de introdução antes de toda a banda entrar no palco fantasiada com boinas
e macacões. Típicos britânicos (apesar do guitarrista alemão).
Muito curioso
pra assistir a performance ao vivo da obra-prima do Jethro Tull. O meu álbum
preferido, ao vivo. Detalhe, o Jethro Tull é uma banda complexa e eclética. Há
várias fases. Todas distintas em seus mais de vinte álbuns de estúdio. Em seus
mais de quarenta anos de estrada. Há a fase folk, progressiva, pop, dance,
blues, jazz, hard rock. O que você imaginar, tem. Difícil, por isso,
classificar o estilo do Jethro Tull. Mas não tenho dúvidas que, assim como eu,
a grande maioria prefere a fase progressiva. A fama da banda vem dessa fase. As
obras-primas, também. Se é bem verdade que o Ian Anderson nunca foi um grande
cantor, toda essa carência sempre foi compensada com o talento do cidadão em
criar. E sempre sozinho. Saiu da cabeça dele as letras e melodias mais
complexas da história do rock. Não eram só as histórias complexas, era a
performance ao vivo do cara. Teatral, frenética, fantástica. E assim continua.
Se o velho hippie não tem mais o cabelo gigante nem a barba de mendigo, mesmo
com seus 65 anos, o cara é um performer único. Ele é a banda. A mente. O cara é
um gênio. Simples, assim. E hoje, é também o maior empresário de salmão da
Europa. A música, hoje, é um hobbie pro velho Ian. E são mais de 100 shows por
ano.
Se ele nunca
foi um bom cantor, hoje em dia, com seus 65 anos, isso fica mais evidente. A
voz é frágil, falha muitas vezes, falta fôlego. Por isso mesmo, há um cantor de apoio que canta uma
grande parte do Thick as a Brick ao vivo. E nem só pela voz frágil do Ian
Anderson, ao vivo, seria impossível o cara tocar ao mesmo tempo, flauta,
violão, violino, piano, acordeon e tudo que você mais possa imaginar. Sim, no
álbum, o cara fez tudo sozinho. No show, as tarefas foram divididas. O que
deixou o Thick as a Brick com uma roupagem diferente. Mas que não tirou nem um pouco
o brilho de ter o privilégio de ver e ouvir essa obra-prima.
Tem gente que
acha que sou rico por me dar ao luxo de passar meses fora, viajando,
acompanhando esses shows. A realidade é diferente, bem diferente. É só
perrengue. E me perguntarão, vocês. E por que é que você faz isso? Porque até
hoje não sei o que to fazendo nesse negócio que chamam de vida e quanto mais eu
pergunto, menos respostas tenho. Pra mim, é tudo uma ilusão com prazo de
validade. Então, ao mesmo tempo que nem eu sei o porque faço isso, há uma
grande satisfação de acompanhar esses shows dessas minhas bandas favoritas
mundo afora. Sempre sozinho. Mil aventuras. No final, é isso que acho que vale
a pena. Já que tudo isso é uma ilusão, que seja musicada a rock and roll...
Na volta pra “casa”,
o primeiro perrengue da viagem maluca, versão 2012. Caminhar do inóspito local
do show pra estação, eu sabia. O lado de volta pra Frankfurt, não. Foi tudo na
suposição. A cidade é no fim do mundo e só eu fui de trem? Só eu fui de
Frankfurt? Meia hora de caminhada num breu do caralho pra achar o outro sentido
da estação. Fui no instinto. Subi uma escadaria escura no meio do nada. Ao
menos tinha uma placa com os horários dos trens. O meu estava lá. Bom sinal.
Nenhum pé de pessoa. Também, é querer pedir demais, né? Uma cidade, já no cu da
Alemanha, numa estação pior ainda e pra completar o kit medo, quase 0h. O trem
das 22h56 passou. Ufa! Sentido oposto! Tava no lugar certo. Porém, os das 22h59
não passou. Comecei a ficar aflito. O meu era as 23h26. Já eram 23h30 e nada.
Sim, fiquei realmente com medo. Se aquela porra não passasse, eu ali, no meio
do nada, esfriando. Porra, gosto de solidão, mas assim, amigão, não tem cu que
não estile. 23h31, barulho de trilho, luz...lá vinha o desgraçado do trem. Nunca
fiquei tão feliz e aliviado na vida por ver um trem velho e vermelho. O AC/DC
escreveu Highway to Hell e o Guns N’ Roses, Night Train, né? Mas quem pegou o
trem do inferno fui eu. Caralho!!!
Quase uma hora
depois, finalmente de volta à estação central de Hauptbanhoff em Frankfurt.
Quando as estações são familiares, você relaxa e sai caminhando de madrugada
tranquilo, como se estivesse em casa. Já tava por ali há quatro dias, tinha
andado Frankfurt de cabo a rabo, então, assim que cheguei na estação do aeroporto,
tudo era familiar. Alguns passos pro albergue e tudo certo. Hora de descarregar
as fotos, baixar a adrenalina e dormir. Próximo dia, hora de deixar a Alemanha.
Mas pra valer a pena, aventuras tem que ter dessas, né verdade?
http://www.facebook.com/media/set/?set=a.105954269549514.10501.100004048244728&type=3
As fotos do show, você pode ver aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário