25 de agosto de 2010

Iron Maiden, Villa Manin, Udine, Itália - 17/08/2010

“E os ossos serão nossas sementes sob o chão...e dos ossos as novas sementes que virão...”


Bruxelas, Bélgica


O leste europeu é tão ruim, mas tão ruim que, até pra sair do desgraçado dá trabalho. Após dormir no hotel, acolhido pelos bons amigos finlandeses, cheguei ao aeroporto de Cluj-Napoca, Romênia, por volta das 12h do dia 16, segunda-feira, quase um dia antes do meu vôo que sairia apenas às 08h15 da manhã do próximo dia, 17 de agosto, terça-feira, rumo à civilização novamente, Veneza, Itália. Mas antes, teria que ir primeiro a outra cidade romena, Tamisoara, pra só então, chegar à Itália. As coisas estranhas não paravam de acontecer na Romênia. Percebi que, por volta das 20h, o aeroporto tava muito silencioso (eu tava “escondido” numa saída de emergência, usando meu amigo notebook e a internet pra passar o tempo) e, quando fui ao banheiro, passando pelo telão com os horários dos vôos, percebi que simplesmente não haveria vôos nas próximas 10h. Nem chegada nem partida. Percebi também que era a única alma naquele aeroporto no meio do nada. Primeiro aeroporto do mundo que vi fechar. Realmente é estranha essa Romênia. Um aeroporto sem clientes não precisa de funcionários, logo, vamos fechar o mesmo, assim como lanchonete, não acender as luzes e etc, ok? Foi o que aconteceu. E lá fiquei sozinho no mesmo. Com luzes apagadas e um temporal caindo lá fora. No aeroporto, no escuro, apenas eu e meu notebook. Justo na terra do Conde Drácula com o castelo dele ali, pertinho de mim, numa noite chuvosa. Ótima ilustração. Até deu medo. Sei lá, naquela terra tudo é estranho, sentir medo deve ser a única coisa normal...







Após horas na internet conversando com vocês e mamãe (a veia ta craque, não larga mais o computador nem a internet, hehe), resolvi tirar um cochilo. Não havia ninguém lá, mesmo. E assim o fiz. Me escondi debaixo duma escada e lá cochilei até amanhecer, algumas horas antes do vôo que, claro, atrasou. Cerca de quarenta minutos. Voei numa companhia chamada Carpatair num aviãzinho executivo à hélice com capacidade para pouco mais de 50 pessoas. Achei ótimo, pois, apesar de pequeno, o aviãozinho era confortável e tinha duas fileiras de cadeiras. Uma dupla e uma individual. Fiquei na individual com bastante espaço pras pernas e sem nenhum vizinho mala do lado. Melhor viajar assim do que em aviões grandes, cheios e repletos de gente falando alto, vizinhos chatos e etc. Voamos de Cluj-Napoca à Tamisoara e lá, a imigração romena implicou comigo. Falei dez vezes que tava deixando o país, tinha ido apenas assistir um show e tava indo pra Itália ver outro. Pra completar a bizarrice, as duas policiais da imigração eram gêmeas. Após me darem um chá de cadeira, carimbaram meu passaporte e me liberaram. Querida Romênia, se sua impressão já tinha sido péssima nos dois dias que fiquei aí, piorou ainda mais depois de sair. O que mais eu queria era sair desse lugar de merda, não permanecer!! E vocês queriam me impedir de sair? Por favor!! Mesmo com castelo do Conde Drácula, Romênia nunca mais!!!

Finalmente de volta à civilização, Veneza, Itália. Não sei se é porque já to viajando há quase três meses e já aprendi a me virar sozinho em todo tipo de situação, mas não senti mais nenhuma ansiedade ou medo de me perder ao chegar a Veneza. Foi tudo muito fácil e natural. Descobri o ônibus pra estação, pra de lá pegar um trem de duas horas pra Udine, uma cidadezinha depois de Veneza onde aconteceria o show do Maiden na Vila Manin, e, de lá, pegar mais um ônibus pro local do show. Foi tudo muito fácil, por preços justos e assim lá chegamos. Só pra variar, encontrei um brasileiro logo de cara e nos fizemos companhia. O cara é um antigo fã do Maiden e também era o 11º show dele assim como o meu, o detalhe é que o primeiro dele tinha sido em 92, o meu, em 2008. Dêem um desconto, o cara tem 38 anos e já é papai. Papai babão por sinal, não parava de falar do filho, um simpático guri de quatro anos que, na foto, todo maduro, hehe, aparentava ter mais. Lá fomos então pro local do show, eu e o papai babão, hehe. Gente boa demais o cara e logo nos entrosamos. Conversamos um bocado até o começo do show. Dividimos comida, falamos sobre música, o mesmo disse que tava acompanhando meu blog e etc. O desgraçado falou quando teve a graça de conhecer o Steve Harris e o quão gente boa o cara é. Falou também que, sempre através de bons contatos, conseguiu conhecer músicos importantes como o Slash, Duff, ex-Guns N’ Roses, Joey Perry e Steven Tyler do Aerosmith e fez questão de dizer como os caras são gente boa. Também fez questão de dizer o quão cuzões são o John Petrucci e o James Labrye do Dream Theater. Músicos são assim. Ou legais e naturais ou uns bostas e arrogantes. Os gigantes são sempre os mais humildes, os apenas bons, são sempre os imbecis. Nossa opinião sobre Vila Manin foi a mesma. Decepção. Nas fotos, o lugar era a coisa mais linda do mundo e enorme. Pessoalmente, não era bem assim. O lugar era grande, mas beeem pequeno em relação às fotos. O casarão tava beeem mal conservado e não condizia com as fotos do site, também. Enfim, fizeram uma propaganda danada como um lugar fantástico e não era essas coisas. O palco que montaram também foi triste. Mais vagabundo impossível. Nem telão tinha. Estruturas velhas, tortas e enferrujadas. Pra quem achava e esperava um show especial na Itália, a decepção foi grande. Ao menos a minha foi.







Houve uma banda italiana de abertura que nem sei qual o nome, pois não avisaram. Morna, morna. Estranhei o silêncio dos italianos. Se quando havia estado em Roma, tinha ficado a péssima impressão do barulho deles, assim como na Hungria, era estranho demais como estavam silenciosos num show do Iron Maiden. Era finalmente chegada a hora do show e eles continuavam quietos. Estranho, muito estranho. Esse, por sinal, foi o mais estranho dos shows do Maiden. Um Bruce Dickinson claramente sem vontade alguma de fazer o show. Tinha até começado bem, dando uma de homem aranha e escalado as estruturas do palco. Não sei se pelo cansaço de dois meses de turnê, quase quarenta shows e as mesmas músicas e piadas de sempre. Tem uma hora que enche o saco até pra ele. Não correu como nos shows anteriores, economizou vocal, não brincou tanto, não segurou a voz, enfim, um show xoxo, nada condizente com a capacidade que o baixinho tem. Digamos que ele usou menos de 50% do que pode e sabe nesse show. Uma decepção pra mim. Um público igualmente xoxo, a maioria, desconhecia totalmente o set list baseado nas músicas novas. De longe, o pior show do Maiden nessa turnê da Europa. Xoxo, morno, sem graça. O pior dos onze shows que vi dos ingleses. Esperava um público feroz e isso não aconteceu. Esperava uma estrutura fantástica e isso não aconteceu. Esperava um show especial e isso não aconteceu. Acompanhando uma banda em vários shows seguidos, você começa a perceber que eles não são super-heróis, apenas humanos iluminados que, assim como nós, seres-humanos normais, tem dias bons e ruins. O Iron Maiden é humano e sim, tem dias bons e ruins, shows bons e ruins, shows quentes e xoxos. A Donzela de Ferro é humana, assim como a gente.

Ao final do show, era hora de mais uma maratona. Primeiro, pegar um ônibus à estação de Udine, de lá pegar um trem pra Veneza e, só então, pegar um outro ônibus para o aeroporto de Marco Polo. Ruazinhas estreitas e escuras nos levaram por cerca de trinta minutos até a estação. No ônibus, encontrei novamente o André e a Betânia que já havia encontrado na Inglaterra, Hungria e Romênia. Na estação, foram pro hotel e eu pegar meu trem. Eram cerca de 0h e o próximo só passaria às 04h28. O jeito foi dormir lá mesmo, assim como metaleiros do mundo todo. Pra minha surpresa, achei novamente o brasileiro que tinha me feito companhia no show. O mesmo tinha saído três musicas antes do final pra não perder o trem de volta a Munique, Alemanha, onde tava com o filhão e a esposa. Não teve jeito e ele perdeu. Mas, pro meu lado, até que foi bom, pois foi alguém bacana pra fazer companhia na madrugada inteira. Falamos um monte novamente (minha garganta tá acostumada a falar pouco e, sempre que falo um pouco, percebo que a mesma dói e fica seca, vai entender), comemos e descobrimos um cantinho confortável no chão da estação pra lá esperar pelo trem das 04h28. To ficando acostumado com esse negócio de dormir em chão de aeroportos e estações. As costas nem doem mais, hehe.

Horas de espera vencidas, o despertador nos acordou e lá fomos nós pro trem. Cada um cochilou pro seu lado novamente até o despertador nos acordar de novo. Desci na estação Mestre e de lá segui pro aeroporto nas primeiras horas da manhã da quarta, dia 18 de agosto. As informações estavam fechadas e teria que esperar até as 09h pra abrir e saber como chegaria ao albergue. Longas três horas de espera, visto que o aeroporto de Veneza, assim como o de Roma, simplesmente não tem nenhuma porra de tomada pra carregar notebook ou celular e também não disponibiliza internet gratuita. Vai aqui uma crítica mundial...já está na hora dos aeroportos pensarem melhor nos passageiros e criarem uma salinha especial e gratuita com camas ou poltronas confortáveis, internet gratuita, chuveiros e toda essa coisa que viajantes constantes precisam. Não digo nenhuma sala enorme e luxuosa pra atender toda a demanda de um aeroporto, mas uma pequena salinha pra esse propósito. É um pé no saco ter que pagar passagem aérea e ainda vir te cobrar pra usar internet ou, alguns policiais, malas, te acordar, simplesmente porque você tá esperando uma porra de vôo. Se não querem ninguém dormindo pelo chão que pensem na hipótese citada, ora pois.

Finalmente as informações abriram e lá fui eu saber como chegar ao albergue. A atendente, nada simpática disse que não havia como. É óbvio que há como, minha filha. Você que não tava a fim de dar informação. Como não quis confusão, fui achar um lugar pra ter acesso à internet pra buscar a rota eu mesmo. Me cobraram oito euros pra usar a conexão wi-fi...desisti. Desci pras informações de novo e falei com a outra atendente que me informou como chegar lá, fácil e rápido. Olhei pra outra disse: burra, que respondeu com: what?? Deixei pra lá e fui pegar meu ônibus rumo ao albergue. Já eram 10h da manhã e o que eu mais precisava era comer um pouco e dormir por longas horas, também precisava dum banho, mas o adiei pra manhã seguinte, quando deixaria o albergue rumo à Bélgica pra mais um show do Maiden, o penúltimo dessa turnê. Dormi até, pelo que lembro, 19h30. Quase 10h, nada mal. E dessa vez, naturalmente. Sem a ajuda dos meus tradicionais amigos de sono, Apraz e Aprazolan. Acordei novo em folha. Vale chamar a atenção pro albergue que fiquei em Veneza, chamado Alba D’Oro. O Albergue fica na estrada e na verdade é um camping com várias cabines. Muito acolhedor o local. Piscina, restaurantes. Um vale das cascatas da vida. Muito bacana. Havia várias famílias, traillers, o caralho. Muito bacana o ambiente. Achei minha cabinezinha e lá me acomodei. Pequena mas confortável. Tinha até ar condicionado, rapaz. E, tudo isso por 15 euros e a cinco minutinhos do aeroporto. Era uma cabenizinha com três camas, mas, pra minha sorte, eu tava sozinho. Completamente dono do pedaço. Depois de acordar, fui buscar informações da minha rota do dia seguinte. O vôo pra Bélgica sairia do outro aeroporto, o de Treviso. Teria que acordar antes das 5h, tomar meu banho longo e reforçado e sair antes do café da manhã. Que pena. Do albergue, peguei um ônibus pra estação de trem, de lá, o trem pra Treviso e de lá, um outro ônibus com destino ao aeroporto. Todos com horários interligados e estava eu no aeroporto duas horas e meia antes do vôo pra não haver problema. Fiz meu check in e lá fui pro portão de embarque com bastante antecedência também. Pra quem já perdeu vôo e tá pra lá de ruim de dinheiro, não se pode mais dar ao luxo de perder um vôo...

No momento, falo do avião, rumo à Bélgica pra mais um show do Maiden. Pelo que entendi, tenho um trem gratuito disponibilizado pelo festival de ida e volta do aeroporto pro local do show e vice-versa. Espero que seja assim mesmo, pois na Itália, além de toda a decepção com o local, a organização foi péssima e chegar lá foi difícil, pois não havia muita informação. Da Bélgica, seguimos pra Valência, Espanha, palco do último show do Maiden este ano. Depois, só a partir de fevereiro, quando começa a turnê pra valer do novo álbum, o The Final Frontier que está fantástico. Particularmente, to ansioso pra ouvir as novas músicas ao vivo que estão do cacete, assim como novas surpresinhas no set list, novo Eddie, novo layout do Ed Force One que voará novamente em 2011 e bla bla bla. A turnê começa em fevereiro do próximo ano e deve passar pelo Brasil em março, com Recife já confirmado pro dia 27, no mesmo Jockey Club, segundo o produtor que trouxe a banda em 2009. Isso se o Maiden não for tocar no Rock in Rio IV (de volta ao Brasil, finalmente, depois de 10 anos. Pode me esperar, Raulzão!!) em setembro ou outubro, pois, se acontecer, provavelmente será show único no Brasil. Esperemos. As aventuras italianas foram essas, pessoas. Tudo de bom, cuidem-se e até o próximo post.

Set List

01. Intro: Doctor Doctor - The Wicker Man
02. Ghost Of The Navigator
03. Wrathchild
04. El Dorado
05. Dance Of Death
06. The Reincarnation Of Benjamin Breeg
07. These Colours Don't Run
08. Blood Brothers
09. Wildest Dreams
10. No More Lies
11. Brave New World
12. Fear Of The Dark
13. Iron Maiden

Bis

14. The Number of the Beast
15. Hallowed Be Thy Name
16. Running Free


PS: A minha impressão pelos italianos mudou, pois, dessa vez, os mesmos foram muito simpáticos e solícitos o tempo todo. Talvez por Veneza e Udine serem cidades menores e não terem o estresse das grandes metrópoles, as pessoas são mais tranqüilas, simpáticas e muito pacientes e solícitas com os turistas. Não vou deixar que minha boa impressão sobre os mesmos seja apagada por uma recepcionista cuzona que queria que eu pagasse 15 euros porque minha mochila tava meio quilo acima do peso. Tirei o notebook da mochila, botei na mão, fui pra próxima atendente e fiquei olhando pra cara da outra cuzona com sarcasmo. É cada uma que tenho passado nessa viagem...

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