4 de abril de 2012

Roger Waters - Morumbi, São Paulo - 01/04/2012

"So ya, thought ya, might like to go to the show. To feel the warm thrill of confusion, that space cadet glow..."

Recife, Brasil

E estamos de volta à estrada. Ou aos ares. Ou aos aeroportos. Ou às rodovias e rotas infinitas. Enfim. De volta por aí, por esse mundão. Eu e minha mochila. Eu e minhas aventuras. Eu e minha inconsequente-inconsequência-inquieta-de-não-ser. Ruas, avenidas, estradas, aeroportos, ferrovias, rodoviárias. Estamos sempre por aí. Se há uma coisa que odeio entre os vôos são as chamadas escalas. Se há algo que realmente me deixa doido, são as conexões. Totalizando todas as horas, teríamos sete horas e meia de (sofrimento) vôo. Passagens Hellcife/São Paulo, estavam ridiculamente absurdas de caras, então, o jeito foi apelar pras milhas com conexões e escalas. Paciência. O preço da economia cobra seu pedágio. Porém, pra minha (agradável) surpresa, a coisa toda passou bem rápido. Recife/Salvador sem nenhum companheiro de poltrona, me dando assim o privilégio de duas cadeiras vagas ao meu lado. Pra um anti-social como eu, um presente. Vôo vazio e silencioso. Nenhum guri berrando e atiçando o instinto assassino de ninguém. Vôo tranquilo. Ah, se fosse sempre assim. Depois, quase quatro horas de espera pro segundo vôo que, pra minha surpresa, também passou rapidinho. Assitir a um show completo do Guns N’ Roses nos velhos tempos (Chicago 2002, com direito a Coma e Estranged), ajudou a passar o tempo. Segundo voo, igualmente sem nenhum corno do lado e nenhuma criança histérica no avião. Ah, se os vôos fossem sempre assim, com pessoas silenciosas e educadas. Foram as 7h30 mais rápidas da minha vida. Vendo por esse ângulo, acho que não sou tão chato, as pessoas que geralmente são inconvenientes, mal-educadas e imbecis. Quando colaboram, eu esqueço por um breve momento que elas podem ser odiadas. Por um breve momento, pessoas também podem ser admiráveis.
Chegando a São Paulo na manhã de sábado, foi como sempre é. Corrido. Nenhum tempo pra nada. E ainda tem gente que vem reclamar que não fiz isso ou aquilo. Se essas mesmas pessoas soubessem que numa viagem assim, você mal para pra respirar, pensariam duas vezes antes de falar ou achar besteira. Após uma madrugada de viagem e uma noite inteira na rua entre caminhadas, metrôs e baldes de suco de laranha (né, Coxinha?), a única coisa que tive coragem de fazer na noite do sábado foi dormir. Foi mal, Jayminho, não deu pra ir tu interpretar Mr. Eric Clapton. Fica pra próxima. Tirando o caos que é São Paulo, não há como sentir falta do clima do Recife. É extremamente confortável sair e não suar como um porco a cada passo nem ter aquela horrível sensação que está sempre sujo, não importa quantos banhos você tome por dia. Quem quiser que goste de sol. E que morra de câncer de pele. Após quase um ano do anúncio do show, dia 01 de abril, tinha chegado. Finalmente o The Wall ao vivo na íntegra com toda produção. A obra-prima do Pink Floyd (Roger Waters), executada com toda a tecnologia que não havia em 1979, ano da realização desta obra-prima. E, apesar do dia, não era mentira. Logo que a gente entrou no estádio do Morumbi, os 137 metros de largura do muro que fazia o cenário do palco e do muro que ilustram a história do álbum de mesmo nome impressionam. Já fui a um bocado de shows grandes, mas, de longe, nenhum se comparou a esse. Kiss, AC/DC, Rammstein, estavam como as maiores produções que já vi nada vida. Mas assitir ao The Wall na íntegra, foi surreal. Fez todos esses grandes shows com produções irreais, parecerem pouco. Mesmo quem não gosta do Pink Floyd, mesmo quem não gosta do The Wall, a experiência de assistir a um show dessa magnitude e produção, fez valer cada centavo do ingresso, cada hora de viagem, cada pequeno estresse que as longas horas de vôo e estrada causam no teu corpo e mente. No final, da vida, não se leva nada. Então, que esses shows, que essas aventuras, façam toda a tristeza e pressão de estar vivo ter algum sentido e valer a pena. Se tudo vai acabar um dia, que seja intenso enquanto dure.
O show começou literalmente com um exército e todas suas fardas e bandeiras como deve ser o começo duma grande espetáculo. Sim, porque não há outra palavra para descrever o que é o The Wall ao vivo, além de espetáculo. Há aviões voando pelo estádio, destruindo e pegando fogo numa parte do muro. Há fogos d'artifício, bonecos gigantes articulados como fantoches. Há projeções em alta e gigantesca definição nos 137 metros do muro que tornam o espetáculo visual literalmente irreal. Há tanta informação que com dois olhos e apenas um cérebro é muito pouco pra processar tanta coisa. Tudo é usado pra contar a história do álbum. Como o nome sugere: "O muro", resumidamente é sobre um personagem que pode ser eu e pode ser você. Alguém que toma porrada da sociedade por toda sua vida. Em casa, escola, amigos, etc. E por isso, cria um muro entre ele e as pessoas pra se proteger. Numa guerra psicológica, contada em capítulos (músicas), o personagem aos poucos consegue destruir o muro e voltar a viver em sociedade. Gostou? Eu também. Não gostou? Pobre de você... Por quase duas horas e meia, os olhos, o coração e a alma são brindados com o maior espetáculo que a terra já viu. Se indicutivelmente os shows de Madonna, U2 e CIA não deixam a dever no sentido super-produção, a questão fundamental da existência de todo esse teatro, a música, inexiste nesses exemplos daí. Quando a questão é Roger Waters e The Wall, a coisa muda de sentido. Além de ser um dos melhores álbuns de música da história, em termos de letras, história e melodias, toda a super produção é "apenas" um brinde pra ilustrar esse que, sem dúvida, é uma das maiores e imortas obras-primas da história da música. Difícil de ser superado. Porém, que continuem tentando...nós, ao menos, agradeceremos.

Set List

Primeira Parte

1 – “In the Flesh?”
2 – “The Thin Ice”
3 – “Another Brick in the Wall – parte 1″
4 – “The Happiest Days of Our Lives”
5 – “Another Brick in the Wall – parte 2″
6 – “Mother”
7 – “Goodbye Blue Sky”
8 – “Empty Spaces”
9 – “What Shall We Do Now?”
10 – “Young Lust”
11 – “One of My Turns”
12 – “Don’t Leave Me Now”
13 – “Another Brick in the Wall – parte 3″
14 – “The Last Few Bricks”
15 – “Goodbye Cruel World”

Segunda Parte

16 – “Hey You”
17 – “Is There Anybody Out There?”
18 – “Nobody Home”
19 – “Vera”
20 – “Bring the Boys Back Home”
21 – “Comfortably Numb”
22 – “The Show Must Go On”
23 – “In the Flesh”
24 – “Run Like Hell”
25 – “Waiting for the Worms”
26 – “Stop”
27 – “The Trial”
28 – “Outside the Wall”

PS: Agradecimento à companhia de Bubu e Dani, Coxinha e Chupeta (vulgo Anderson) e Diego, que encontramos no show e nos fez companhia. E claro, à Cynthia-menina, menina-Cynthia. A menina que sempre nos abriga de coração aberto no recém-apelidado "Albergue da Cynthia". Final de semana corrido, mas bem divertido. Como sempre. Tudo de bom, povo. Até a próxima aventura.

2 comentários:

  1. Bicho, foi a coisa mais impressionante, acachapante e emocionante da minha vida. Tou feliz de poder ter compartilhado isso com vocês. abração!

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  2. De acordo, monstro. A companhia do show, idem. Tudo de bom e até o próximo.

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