8 de novembro de 2011

Pearl Jam - Morumbi, São Paulo - 04/11/2011

"Daddy didn't give attention, to the fact that mommy didn't care, king Jeremy the wicked, oh, ruled his world..."

Recife, Brasil

Após umas sete horas bem dormidas numa noite gelada, finalmente as baterias estavam recarregadas depois de quase dois dias inteirinhos sem dormir. Era dia do segundo show do Pearl Jam em fucking São Paulo. Meu primo precisava encontrar a patroa e lá fomos eu e Cynthia-menina, menina-Cynthia deixar o cidadão em Congonhas onde ele encontraria com ela. Cuidei do seu filho direitinho até a sexta viu, dona Lúcia, dessa sexta em diante, o ofício ficou com a Rafaela.

Se o percurso Saúde - Morumbi foi relativamente rápido na quinta, a sexta não foi tão agradável assim. Meio óbvio, São Paulo, a cidade do caos com suas mais de onze milhões de pessoas (muito maior que muitos países) se eleva à enésima potência em termos de trânsito e caos quando é sexta-feira. A gente saiu de casa às 16h30 e chegamos ao estádio por volta das 20h15. Acho que não precisamos falar mais muita coisa, né...

Mas é sempre preciso olhar o lado positivo das coisas, não? O negativo, a gente finge que não existe. No meu mundinho autista, eu sempre finjo assim. Tenho alergia a qualquer forma de realidade. "Lá do alto deve ser bonito..." O lado positivo seria esperar quase nada pelo segundo show do Pearl Jam (previsto pras 20h45). Se na quinta, mesmo com as arquibancadas vazias, já havia cerca de quarenta mil pessoas no Morumbi, na sexta, com as arquibancadas cheias e coloridas, umas sessenta mil pessoas esperavam o Pearl Jam. Casa cheia. Bonito. Todos esperando uma das últimas bandas autênticas e carismáticas nessa vida cada vez mais fútil e artificial.

Assim como a sexta, o show (que deveria começar às 20h45), atrasou meia hora como a sexta e começou entre 21h10 e 21h15. Se na quinta, o início foi lento e hipnótico com "Release", a sexta começou quebrando tudo com "Go". Logo em seguida, "Do the evolution" pra heavymetalizar o frio e de São Paulo (embora não tanto como na sexta). Público devidamente aquecido, banda novamente feliz, lá íamos, segundo o próprio Eddie Vedder, pro show mais longo da turnê em homenagem ao maior público da turnê. Com sua tradicional simpatia e esforço, Eddie Vedder, em bom português falou: "Vocês estão lindos essa noite" e logo depois: "Vou falar em inglês porque meu português é uma merda..." O Pearl Jam não precisa ser artificial e forçado pra agradar seu imenso e fiel público, mas a cada gesto simpático como esse, a banda se torna imune a qualquer risco de crítica ou antipatia e aumenta a cada vez mais a fidelidade e amor dos que a acompanham...

Se na quinta, eu já havia ficado muito satisfeito com o set list que teve "Even Flow", "Daughter", "Alive", "Black", "Rearviewmirror", "I Believe in Miracles", "Rockin' in the Free World" e outras, igualmente tinha sentido falta, e muita, de outras clássicas como "Wishlist", "Given to fly", "Jeremy" e até "Last kiss" que teve um erro da banda e caretas dos músicos que pareciam ter esquecido de toca-la, mas após umas caretas entre si, acharam o rumo. Acho linda essa espontaneidade duma banda desse porte errar ao vivo e não se abalarem, sendo apenas humanos. A banda, mais uma vez, é tão mágica e autêntica, que até quando erra, ganha a simpatia de todos...

E muito rapidamente, o show de duas horas e meia chegou ao fim com aquele sentimento escondido de tristeza por ser o final. O Pearl Jam é uma banda tão boa, tão autêntica, que mesmo que mescle músicas bem conhecidas com outras nem tanto, não deixa as pessoas entediadas em momento algum. O Eddier Vedder no seu esforço de apresentar a banda em português e arriscar elogios e piadas, igualmente em português, tem o público na mão o tempo todo. O carisma em pessoa. Que a próxima passagem do Pearl Jam pelo Brasil não demore mais longos seis anos...

Depois duma longa caminhada chegamos ao carro por volta das 0h30, após outro longo giro por São Paulo (a cidades da filas) atrás duma lanchonete, estávamos em casa às 2h30 já do sábado. Minha amiga-eterna-inquilina, Cynthia-menina, menina-Cynthia, precisaria ir à faculdade na manhã do sábado e só voltaria na madrugada. Sendo assim, não a veria mais. Como minhas economias eram curtas, apesar do meu vôo só sair às 23h10 do sábado, resolvi ficar o sábado inteiro mofando na casa dela assistindo séries, fuçando a internet e esperando o tempo passar. E passou rápido.

Um casal de amigos fez o favor de me dar carona até Congonhas, juntamente com outros dois amigos de Hellcife que tinham ido a São Paulo especialmente pro Pearl Jam como eu. Cheguei à Guarulhos por volta das 18h30 e lá teria quase cinco horas de espera, mas tudo bem. Vôo pontualmente pronto pra sair mas, longos minutos e o avião não saia do canto. As pessoas começaram a ficar impacientes. Era um passageiro que havia passado mal e tava morrendo lás nas cadeiras de trás. O avião teve que retornar pro pátio de embarque pra desembarcar o pré-defunto e sua mala. Pouco depois, soube-se que o cidadão era marinheiro de primeira viagem, tava se cagando de medo de voar e tomou um monte de comprimido pra não vomitar nem entrar em pânico. A pressão do infeliz baixou e atrasou a vida de quase duzentas pessoas. Pré-defunto cagão retirado e uma hora de atraso, finalmente no ar. Lá íamos nós de volta pra casa...

Enquanto o avião se preparava pra decolar, um guri de seus três anos, fazia infinitas perguntas: "Ow pai. O avião já tá voando?" - Não filho, ainda não. "Ow pai, porque a moça do avião tá de preto. Ela tá triste?" - Não, filho. É a roupa da companhia". "Ow pai, eles vão dar comida a gente?" - Sim, filho. Jajá. "Ow pai..." - Larga de ser perguntador, moleque. Se você não ficar quieto, o avião não vai voar e a gente vai ficar com fome!" Fez-se silêncio, então. Mas gostei do guri perguntador. Simpático. Na outra poltrona do lado, na fileira do outro lado do avião, uma bichinha matuta fazia poses pras próprias fotos. Escolheram a dedo as pessoas mais feias existentes pra esse vôo de volta. Não que eu seja um modelo, mas a coisa tava feia. A tal da bicha pobre é deprimente, viu! Caras e bocas pra nas fotos solitárias pra postar pras amigas bibas no orkut: "Olha eu voando, beeecha!! Arrasei!!" Ávestruz, né McMala? Hehe...

Dei a sorte de não haver ninguém ao meu lado e pude fazer das três poltronas uma cama improvisada. Usei minha mochila, igualmente improvisada, como travesseiro. Não costumo conseguir dormir em aviões, mas quando a viagem de três horas se resume a dez, percebe-se que você, ao menos, cochilou. Já em Hellcife, fui recebido pela minha amiga de sempre, a chuva. Gentil. Fui pegar um táxi e me cobraram R$ 55,00. "Amigão, não sou turista e mesmo que fosse, não seria otário o suficiente pra pagar isso num percurso de 10 Km's. Brigadão, bonitão, mas ali atrás tem um bando d'otário que você pode enganar. A mim, não. Tudo de bom." E me retirei rindo da cara do imbecil. Atravessei a rua do aeroporto e peguei um táxi igual por R$ 20,00. Assim terminou mais uma de minhas dezenas de aventuras por esse mundão atrás das minhas bandas favoritas. Enquanto essas bandas existirem, estaremos voando, cantando um pouco de sonho, vivendo um pouco de ilusão, fazendo existir e pulsar esse negócio que chamam de vida, esteja onde estiver...

Set list

Go
Do The Evolution
Severed Hand
Hail, Hail
Got Some
Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town
Given To Fly
Gonna See My Friend
Wishlist
Amongst The Waves
Setting Forth
Not For You / Modern Girl
Even Flow
Unthought Known
The Fixer
Once
Black

Bis 1

Just Breathe
Inside Job
State Of Love And Trust
Olé
Why Go
Jeremy

Bis 2

Last Kiss
Better Man / Save it for Later / I Wanna Be Your Boyfriend
Spin The Black Circle
Alive
Baba O'Riley
Yellow Ledbetter

PS: Post dedicado ao meu amigo Bubu e sua esposa Dani que, gentilmente, me deram carona até Congonhas. Brigadão, pessoas. Até março no Roger Waters. Um abraço e at'outra vez.

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