"Mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir..."
Lisboa, Portugal
Fizemos nossa mais longa viagem até então. Saímos de Berlim pela manhã, pegamos um rápido metrô com apenas uma estação. Depois mudamos para um trem expresso pro metrô e lá chegamos em menos de vinte minutos por menos de € 4. Fomos ao aeroporto de Schonefeld em Berlim e lá esperamos o vôo pra Stuttgart. Algumas horas de chá de cadeira e outro vôo pra Madri. De lá, um rápido e barato ônibus, apenas € 1 pra estação de ônibus. Mais algumas horas de espera e mais algumas horas de ônibus até o nosso destino final, Bilbao, Espanha. Tenho um azar desgraçado com companheiros de poltronas. Na viagem à Suíça, peguei o hippie-peidão alemão fedorento. Mas ao menos o cara era bacana. Dessa vez, fui com outro hippie doidão ao meu lado. Mas, além de fedorento, o desgraçado era cheio de tiques. Sabe quando alguém tem a respiração ofegante quando acabou de correr? Era assim o tempo todo o infeliz. E se coçava e coçava a barba o tempo todo. No meio da viagem, sem cerimônia, tirou a roupa e dormiu no chão do ônibus. No corredor. Literalmente um bicho. A capital da província de Biscaia, no País Basco, Espanha. Uma pequena cidade de cerca de 350 mil habitantes.
Chegamos logo cedo na quinta-feira em Bilbao. Seis horas de uma manhã fria e chuvosa. Gente da Europa toda chegava a todo momento na pequena rodoviária. Logo conheci dois caras bacanas da Galícia, uma comunidade autônoma na Espanha que tem seu próprio idioma que é beem parecido com o português pra minha sorte. Os caras eram duma cidadezinha de cerca de 100 mil pessoas chamada Ourense. Era o Maxi, de 33 anos e o Adrien de 16. O primeiro, o tio, o segundo, o sobrinho. Logo fizemos amizade e nos entrosamos. Caminhamos 10 minutos da estação para lá esperar o ônibus que nos levaria ao local do festival numa região montanhosa e de estradas sinuosas a 10 minutos dali. Nota 10 para a organização do BBK Live Festival que disponibilizou ônibus gratuitos do estádio ao local do show e vice-versa durante quatro a cada 5 minutos. Ou seja, era possivel ir da cidade ao local do show e voltar a cidade pra comprar comida e o que mais fosse necessário. Muito barata e amistosa a cidade. Fomos sempre muito bem tratados pela pequena população de Bilbao.
Assim que chegamos ao local do show, ficamos impressionados com a beleza do lugar. Localizado numa colina onde podia se ver toda cidade de Bilbao. Lindo lugar, muito verde, muitas árvores, polícia nos observando 24h. Nota 11 pra organização do evento. Logo montamos as duas barracas, voltamos à cidade, compramos muita comida por um preço muito bacana, voltamos, comemos e fomos ao primeiro dia do festival, na mesma quinta, 08 de julho que teria como atrações principais Slayer e Rammstein. Honestamente, só queria ver estas duas bandas, pois não fazia a mínima questão de assistir as outras.
Slayer
Fiquei surpreso ao conseguir ver o show dos americanos malvados da grade e não ser morto por ninguém. Muito civilizado o povo espanhol. Tinha gente da Europa toda também, principalmente ingleses. Mas, sobrevivi a grade sem muito sacrifício. O show burocrático mas competente e pesado, muuuito pesado de sempre. Esse é o Slayer. Entram no palco, tocam seus clássicos, sem muita simpatia, sem muito carisma mas com muita competência e brutalidade. Bem, esse é o Slayer. Todos satisfeitos com Reign in Blood, Dead Skin Mask, South of Heaven, Angel of Death, entre outras. Pouco mais de uma hora de show. Suficientes pra por todo o ódio pra fora e sentir-se em paz pro show do Rammstein logo a seguir no palco 2, o principal.
Rammstein
Pontualmente as 23h30, os alemães sobem ao palco com uma pequena introdução de fundo. Após as primeiras bombas, cai o pano preto e mostra-se uma imensa bandeira alemã de fundo. Mais alguns segundos e a mesma cai, revelando um cenário fabuloso e futurista. Alemão é uma língua difícil e aposto que, assim como eu, poucos entendem algo das letras sem auxílio de tradução. Mas, a música em si é pesada, forte, suficiente pra contagiar e agradar a todos os amantes de heavy metal. Nota 12 pra produção da banda que bem que poderia mudar seu nome pra FIREstein. O uso de fogo durante todo o espetáculo é uma das características da apresentação dos alemães. São banheiras incendiadas, integrantes inçados ao teto do palco derramando cachoeiras de fogo do teto, lança-chamas, fogos de artifício no ar, estrelinhas, enfim, tudo que pode existir de pirotecnia, você verá num show do Rammstein. Se achei fantásticas e históricas as produções e pirotecnias nos shows do AC/DC e Kiss, o Rammstein, certamente entrará na lista das maiores produções que já vi na vida. Fantástico.
Após o show, eu e dois galegos (sim, quem nasce na Galícia, assim é chamado), estávamos exautos e lá fomos às nossas barracas comer e dormir pro dia mais importante do festival, a sexta, dia 09 de julho com o Pearl Jam como banda mais esperada do festival. Tomei meu remedinho e dormi umas duas horas. Quando acordei, nem sinal dos galegos. Fui à barraca deles e tava trancada com cadeado. Então, haha, outro vizinho de barraca, brasileiro, hehe, este de Mogi das Cruzes, me deu o recado que eles não quiseram me acordar e que estariam me esperando no local dos shows e que se não conseguisse encontra-los, após os shows, estariam na barraca em frente à minha.
Gogol Bordello
Cheguei na hora do show dessa banda única. Única porque tem nacionalidade multiétnica. Há músicos de todas as partes, Ucrania, Rússia, Israel, Etiópia, Equador, Estados Unidos, China, Japão, o caralho. Por toda essa mistura, faz o show ser um espetáculo único em termos de música e performance. Há teatralidade e mudanças rítmicas o tempo todo. Um som forte, impossível ficar parado. Um dos melhores shows do festival. Uma surpresa pra mim. Há tanta energia, tanta teatralidade na performance dos músicos, tantos instrumentos que até os frios europeus piraram nos shows desses ciganos. Fantástica é a palavra pra descrever este show.
Alice in Chains
Após o lamaçento show que vi dos caras no Sonisphere Festival na Suíça, tava muuito ansioso pra ver novamente os caras. Dessa vez num lugar seco e com atenção e assim fui. Aos poucos fui chegando na grade e lá conheci um povo bacana da Grécia e Islândia. Após o começo do show porém, apareceram uns espanhóis cuzões e bêbados e começaram a empurrar a todos. Como tava com câmera e laptop na mochila, não quis confusão com esse tipo de babaca e fui aos lados. Achei um lugar bacana e lá tive uma ótima visão do show sem nenhum idiota bêbado querendo confusão. É bonito ver que essa banda conseguiu sobreviver a uma tragédia pessoal que foi a morte do vocalista Layne Staley e após anos num casulo decidiu sobreviver com a ajuda do carismático William DuVall e está aí na ativa firme e forte. Lindas músicas. Umas melódicas, outras pesdas. É muito emocionante ver estes caras ao vivo após um drama pessoal tão traumático. O Alice in Chains é um exemplo de que a gente precisa ir em frente quando nossos melhores amigos se vão. É uma forma de provar a nós mesmos e a eles que por eles, sobreviveremos. Isso é fantástico. Sem comentários sobre o show dos caras. Destruidor.
Pearl Jam
E eis que chegava o momento mais esperado do festival. Sem frescura, Eddie Vedder entra no palco com sua tradicional garrafa de vinho, set-list na mão e um sorriso estampado na cara. Sem muita frescura, começam o show com "Do the evolution". E daí em diante foi clássico atrás de clássico como "Why go", "Given to fly", "Alive", "Black", etc. O público se mostrou insano. Nem pareciam europeus. Foi preciso o Eddie Vedder parar o show, dizer que entendia que eles queriam chegar perto da banda, mas pra evitar que alguém se machucasse, todos dessem três passaos pra trás. Pedido atendido e show em frente. Impressionante o carisma espontâneo do vocalista. "Vamos falar em inglês porque espanhol é uma merda", hehe e assim por diante. A simpatia em pessoa. O ponto mais alto do show foi quando o mesmo perguntou se alguém queria cantar uma música. Um cara disse que sim ele o convidou ao palco. Pra delírio do sortudo e do povo. O cara mandou bem e cantou perfeitamente "Daughter", com direito a um gole de vinho da tradicional garrafa do Eddie Vedder, abraços e os dois se jogando no chão do palco. Se via perfeitamente a felicidade estampada no rosto do Eddie Vedder e se sentia que aquilo não era nenhuma armação. Momento clássico e lindo da noite. Com um bis com a linda e acústica "Just Breathe" e a clássica "Alive", o Pearl Jam se despediu de Bilbao deixando um lugar entupido com mais de 30 mil pessoas em extase. Um dos maiores shows que vi na vida. Não preciso dizer que chorei, não é? Hehe. Um dia depois, a banda tocou em Portugal, onde estou agora, e lá anunciou que vai dar uma parada por tempo indeterminado. Não é o fim. Apenas umas férias que acho sadias e necessárias pra todas bandas com uma longa e vitoriosa carreira. Nós estaremos aqui os esperando o tempo que for preciso.
Set List
01. Do The Evolution
02. Corduroy
03. Hail Hail
04. Why Go
05. The Fixer
06. Dissident
07. Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town
08. Unthought Known
09. Even Flow
10. Arms Aloft (Joe Strummer & The Mescaleros cover)
11. Given To Fly
12. Comatose
13. Porch
14. Got Some
15. Amongst The Waves
16. Black
17. Rearviewmirror
18. Just Breathe
19. Daughter
20. Alive
Faith No More
E pra fechar o último dia do festival teríamos o Faith No More. Um monte de bandas, mas apenas os americanos de interessante. Se Eddie Vedder impressionou com sua performance, carisma e simpatia, Mike Patton. Falando em espanhol o tempo todo, brincando com o público o tempo todo, os americanos fizeram um show pra lá de especial pra um público bem pequeno em relação aos dias do Rammstein e Pearl Jam. Teve de tudo no show. Cover de Ben de Michael Jackson, o cacete. Mas o momento mais marcante do show foi quando o vocalista se jogou no público que o fez surfar por todo o local, até devolve-lo ao palco. Fantástico show, fantástica performance com direito a dois BIS. Ao final do show, Mike Patton, sempre em espanhol, mandou bessitos pra todos e se despediu. Ótimo final de um festival marcante.
Hora de voltar a barraca pra dormirmos a última noite já que domingo cedo, teríamos que desmontar todas as barracas, organizar tudo e seguir viagem. Os bons amigos da Galícia pra sua cidade e eu rumo a Lisboa, Portugal. Essa próxima aventura, fica pro próximo blog. Esse tem como tema principal o BBK Festival. Vivi ótimas história e levo no coração todas as coisas que lá vivi. Uma grande final de semana, ótimos shows. Dias pra guardar na memória.
PS: Sem dúvida, esse post vai em homenagem aos meus amigos da Galícia Maxi, Adrien e Ritchie. Obrigado pela simpatia, amigos. O mundo tá cheio de cuzóes mas ainda e felizmente existe muita gente boa nele. Esses caras que sequer me conheciam, me cederam uma barraca, comida, sua simpatia e companhia por todos os quatro dias seguintes e não me cobraram um euro sequer. Muito gratificante e bonito isso. Espero manter contato com esses caras para, no próximo ano, vê-los de novo. Maxi e Adrien, não esqueçam de Porto Alegre, hehe. Tudo de bom.
Eles sejam abencoados mesmo.
ResponderExcluirTenho dado sorte com pessoas legais nessa viagem, viu. Ainda tá muito recente, mas acho que vou ver voces ano que vem, hein. Se nao mudar, a agenda é:
ResponderExcluirMarço - Américas do Sul e Central
Abril e Maio - Europa de novo
Junho - Canadá e EUA
Julho e Agosto - Europa de novo
Setembro e Outubro - África, Ásia, Oceania e Antartica.
HAHAHAHA
ResponderExcluirSeu mochileiro das galaxias!
olha aeee!!! soh mandando um alow de recife!
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