12 de setembro de 2011

Blind Guardian, Via Funchal, São Paulo, Brasil – 09/09/11

"Tomorrow will take us away, far from home, no one will ever know our names..."

Recife, Brasil


Esse negócio de viajar é uma coisa desgastante. Toda vez que embarco numa me conformo que vão ser horas sem dormir e meus pés andarão bastante. Deslocamento da sua casa (seja onde for), pro aeroporto (seja como for), horas esperando no mesmo pelo seu vôo (seja pra onde for), o vôo em si (seja por qual companhia for), para chegada na cidade ou país de destino (seja qual for), para mais uma maratona final pra chegar ao seu destino final (esteja onde estiver). Mas não reclamo. É uma das coisas que me dá alegria nessa vida. E pouquíssimas coisas me entusiasmam nessa vida. Sou difícil de entreter.

Esperei longas seis horas no aeroporto até o meu vôo. Depois foram mais três horas e quarenta de vôo de Recife a São Paulo com quarenta minutos de brinde nada divertidos dando voltas no ar com direito a ola, aguardando a pista ser liberada. Depois, lá vamos nós pra mais duas horas no amado trânsito caótico de São Paulo, mesmo às sete horas da manhã. Após mais de um dia sem dormir, resolvi desistir e me concentrar no primeiro show da maratona do final de semana. Enquanto eu resolvia o melhor caminho pra chegar ao Via Funchal, o tempo lá fora tava tipicamente São Paulo. Agradável, mas não frio. E cinza. A mistura tradicional de poluição com céu nublado.




Cheguei ao Via Funchal por volta das 20h30. Uma meia hora antes do show de abertura duma banda paulistana chamada Brotherhood. Sou muito chato com bandas novas e tava muito cansado depois de mais de um dia e meio sem dormir. O que me deixa num estado quase catatônico e me torna ainda mais anti-social do que já sou. O humor vai pra casa do caralho e fico mais azedo que limão. Ou seja, pra desenferrujar o mau humor, o show da banda em questão tem que ser muito, mas muito bom. E foi. O vocalista era muito competente e as músicas tinham linhas pesadas e melódicas, muito interessantes. Mas a noite era mesmo dos alemães do Blind Guardian e por isso estava lá.

Primeiro show no Via Funchal. Bom lugar. Pequeno mas não apertado. Ótima visão, onde quer que você esteja. Alto ou baixinho (eu). Boa estrutura. Ruim apenas, pois estava a apenas a quinze estações de metrô com quatro trocas de trens. Lá depois da casa do cacete. Mais de uma hora pra chegar, pois alguém tinha se jogado (ou algo do tipo) nos trilhos e, por isso, o metrô tava operando em velocidade reduzida e com maior espera nas estações. Mas tudo bem. Pontualmente, às 22h, “os alemão” do Blind Guardian subiram ao palco e me trouxeram de volta o ânimo. Acho que a entrada duma banda diz muito sobre o restante do show. Acertei nessa ocasião. Os caras entraram “cá porra” e o público reagiu muito bem. E quando o público reage bem de cara, é jogo ganho. Uma pena apenas pelo som que tava bem sujo. Muito embolado. Mas, problemas a parte, a banda fez um show pra lá de competente.




Hansi Kürsch entrou com uma bandeirinha do Brasil na mão e, ao longo da apresentação ganhou uma irmã maior pra ilustrar o cenário da banda que, é claro, ficou bem mais bonito com a nossa gentil bandeira verde-amarela. O cidadão tem um gogó pra não botar defeito. Apesar de esforçado, o cara não é carismático e dominar um show com facilidade não é o forte dele. Lá no fundo (depende do seu ponto de vista), o cara é pra lá de tímido. Mas, não posso culpá-lo. Nem todos são como o Bruce Dickinson que, além de cantar uma barbaridade, corre sem parar, faz piadas e agitam até o mais desanimado dos seres. Mas o show não era do Iron Maiden e sim do Blind Guardian. Apesar de não ser carismático (o rapaz é apenas um velho nerd, ou vocês acham que basear uma carreira inteira falando de historinhas de O senhor dos anéis nas letras é o que?) o Hansi Kürsch faz bem seu papel de vocalista. Com perfeição. Dá uma pequena noção das suas letrinhas nerds antes de cada canção e dá uns graves com seu vozeirão pra fugir um pouco da sua timidez. Os guitarristas (André Olbrich e Marcus Siepen), bastante animados com a reação do público correram um bocado no palco. Acho que num show de rock and roll, correr no palco é fundamental pra agitar o público e deixá-lo maluco. Os caras que se virem pra serem atletas. Quero me empolgar num show, não dormir. E o show do Blind Guardian me empolgou bastante. Eu não dormia há quase dois dias e tava azedo, moribundo e catatônico, lembram? Pois bem, a performance dos caras foi tão boa que me fez esquecer desse detalhe por um momento.

O set list começou com “Sacred Worlds”, que abre o mais recente álbum “At The Edge of Time”, o que é uma boa pedida. A música começa com uma orquestra (reproduzida via sampler de teclado, claro) e logo emenda com uma patada no pé d’ouvido. O que é a melhor forma pra se começar um show de heavy metal. Com o público já alerta, veio outra lapada, “Welcome to Dying” com um refrão bem simples pra todo mundo cantar facinho: “Welcooome to dyiiiiiing”. Vieram outros clássicos como “Nightfall” e “Bright Eyes” pra tirar a voz de todo mundo logo no começo (era a única forma do vocalista poder cantar mais alto que o público, hehe). Desfilando clássicos, o momento marcante ficou por conta de “Valhalla”. A banda deixou o público cantar sozinho por uns bons minutos, acompanhado apenas pela bateria. Conseguiu emocionar “os alemão” a ponto de emendarem com a balada mais conhecida da banda “Lord of the Rings”. Depois, veio a quilométrica “And the there was silence” que, particularmente, gosto bastante, mas ao vivo não funciona tão bem. Fica meio maçante. E quando o som não tá tão bem como era o caso, também não ajuda. Pro bis, uma escolha errada ao meu ver como introdução. “Wheel of time” é muito fraquinha. Após uma esfriada de público, duas clássicas pra fechar com classe. “The Bard’s Song (In the Forest)”, acústica pra acenderem os isqueiros e “Mirror Mirror” pra perderem o restinho de voz já perdidos ao longo do show. Um show muito além da minha expectativa. Público excelente em número e em participação. Ao final do mesmo, era evidente a satisfação no rosto da banda e o no suor do público. Parabéns a São Paulo. Foi minha oitava vez na cidade e foi um dos espetáculos que mais o público participou e nunca vi tanta mulher bonita num show. Acho que vou mudar pra lá.




Na volta, pra não fugir da minha tradição, uma pequena aventura. Primeiro, eu tinha que descobrir onde era a parada do ônibus (difícil, pois a mesma não tinha nenhuma identificação, e não sou de São Paulo pra saber esse tipo de manha). Resultado, fui parar no outro lado da mesma sem a mínima noção. Sabia que tava perdido e voltei pra perto do Via Funchal quando vi um ônibus parado com um bando de gente de preto subindo. É claro que era aquele e era o último. Tive que, pela primeira vez na vida, atravessar a rua e correr como corno atrás dum buzão e pedir pelamordocão p’rele parar. Obrigado, seu motorista, salvou minha noite. Chegando à estação, por um mísero minuto, perdi o metrô. Era 0h01 da manhã e o próximo só às 04h40. O jeito foi negociar o resto do caminho com o taxista. Ele pediu 20 reais, eu disse que tinha 17,25. Ele aceitou e ufa, cheguei são em salvo à casa da minha amiga Cynthia pra, finalmente, poder domir. Não muito, tinha treino de F1 às 09h00. Mas, estar em “casa” numa cama quentinha já era suficiente.

Set list

1. Sacred Worlds
2. Welcome to Dying
3. Nightfall
4. Fly
5. Time Stands Still (at the Iron Hill)
6. Bright Eyes
7. Traveler In Time
8. Tanelorn (Into the Void)
9. Lord of the Rings
10. Valhalla
11. Majesty
12. And Then There Was Silence

Bis

13. Wheel of Time
14. The Bard's Song - In the Forest
15. Mirror Mirror

PS: Post dedicado à minha amiga Cynthia que, mais uma vez, me abrigou na sua casa em São Paulo na, sexta das oito vezes que fui a São Paulo. Tudo de bom pra tu, Cynthia menina, menina Cynthia.

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