Recife
E Toronto foi o palco do nosso décimo oitavo show do Iron Maiden, o quarto em terras canadenses nessa nova e segunda viagem maluca por este mundão. Sempre é uma ótima experiência assistir a essa banda ao vivo. Nestes tempos descartáveis que os gênios vão morrendo aos poucos e os idiotas vão surgindo aos montes, assistir pessoalmente às últimas lendas vivas é uma oportunidade que não se pode perder. E nunca se sabe o dia d'amanhã...
Ottawa, o primeiro show no Canadá, era a hora de se deliciar com o primeiro show visto nessa Maiden England North American Tour 2012. O segundo, em Quebec, era pra curtir de verdade, num local relativamente pequeno, apenas pra fãs e vendo os caras a um palmo de distância. O terceiro, em Montreal, igualmente confortável, assistir a um show com um grande amigo e o quarto e último, um sentimento diferente. Último show de 2012, últimos dias no Canadá, igualmente na presença duma grande amiga, numa grande cidade. Ah, essa Toronto...
E Toronto recebeu o melhor show dessa primeira parte da tour no Canadá (não estarei presente nos outros quatros em Winnipeg, Calgary, Edmonton e Vancouver). O mais lotado, também. Segundo Bruce, cerca de vinte mil pessoas estavam presentes na noite de sexta-feira 13, também dia mundial do rock no Molson Amphitheater. Fiquei no setor General Admission, que não tinha mais que 3 mil pessoas. Pra quem gosta de verdade da banda, um sonho. Realmente perto, com pessoas educadas e um palco não muito alto. Tudo na medida certa pra encerrar com chave de ouro nossa segunda tour maluca por esse mundão...
Com casa cheia e um público fiel, respeitoso e apaixonado, a performance da banda que sempre é pra lá de incendiária, estava ainda mais. Parece um clichê, mas não é. Grande parte do clima de um show, se deve ao público que o assiste. Ok, alguns dias, nem com o melhor público do mundo a coisa funciona. Mas nesta sexta-feira 13 funcionou. E muito bem. A banda entrou mais uma vez com "sangue nos óio". Moonchild é uma música poderosa e perfeita pra começar um show de uma tour tão especial como esta. A música não é curta, quase seis minutos, mas passam extremamente rápido. Há algo de hipnótico nesta música. Quando a mesma acaba, mal você consegue respirar e pensar consigo mesmo: "Uau, estou mesmo num show do Maiden e mesmo sendo a décima oitava vez, esse sentimento de excitação nunca vai embora!". Can I Play with Madness, apesar de não ser uma das minhas favoritas, funciona muito bem ao vivo e te distrai pra você, mais uma vez, entrar em transe com outro clássico que não era executado há anos. The Prisoner vem na hora certa de quase te fazer chorar. Uma das obra-primas do The Number of the Beast que era pedida de volta há tantos anos. Na sequência, te enfiam 2 minutes to midnight guela abaixo pra você cair um pouco na realidade e ser um pouco crítico: "Poxa, essa música é bacana, mas já foi tocada a exaustão e pode muito bem sair do set pra dar lugar a músicas muito melhores que todos querem ouvir por muitos e muitos anos." Afraid to shoot strangers, é uma daquelas surpresas raras no set. Apesar de não ter muito a ver com esta tour, é muito bem-vinda. De brinde, conta com uma interpretação fantástica do Bruce, o que faz ler nas entrelinhas as músicas especiais que o baixinho dá 200% na interpretação. The Trooper vem na sequencia. É uma daquelas clássicas que, apesar de não me agradar muito, funciona muito bem ao vivo, assim como a The Number of the Beast que conta com um enorme demônio mecânico no fundo do palco que se move durante os cinco minutos da música. Com todas as chamas do cenário, você, muitas vezes, pode até se perguntar se aquele boneco não é real, tamanha a realidade do mesmo. Phamtom of the Opera, apesar de ser uma obra-prima, também poderia sair do set pra dar espaço a mais clássicos não executados ao vivo. Run to the Hills, uma das clássicas, mas já tão batidas que você canta meio que no automático. Todo o dinheiro que gastaram no demônio da Number of the Beast, na pirotecnia de todo os show, no belíssimo cenário e nos outros dois Eddies, deve ter secado os cofres da banda. Durante a execução da Run to the Hills, um Eddie muuuito tosco entra no palco. Depois de ficar acostumado com os fantásticos e pra lá de bem-feitos e reais da Somewhere Back in Time e Final Frontier, esse foi pra lá de vagabundo, hehe. Os outros dois citados estão tão bem-feitos que a gente perdoa esse lapso. Wasted years vem trazendo toda a sutileza de Mr. Adrian Smith que conquistou tantos e tantos fãs da Donzela. Seventh son of a seventh son, não executada desde 1988 e um dos maiores épicos de toda a história da banda, juntamente com Rime of the Ancient Mariner é finalmente executada. Como diz um amigo: "Agora a porra fica séria..." A começar pelo Eddie gigantesco no fundo do palco com sua bola de cristal ainda mais realista. Duas enormes velas pegando fogo, em casa lado do palco e um órgão sombrio com o "sétimo membro" do Maiden, igualmente pra lá de sombrio, tornam de longe o momento-chave deste show. A interpretação do Bruce, com uma capa medieval e todo o clima místico da música, te fazem visitar um outro mundo durante os mais de dez minutos dessa obra-prima do rock and roll. Quando a música acaba, você fica ainda catatônico. Você que ainda não viu esta tour, me entenderá quando a vir a vivo. Dê uma chance a si mesmo e não perca esse show quando passar aqui no Brasil no próximo ano. The Clairvoyant com uma das introduções de baixo mais lindas que Mr. Steve Harris já criou, te faz se sentir realmente bem e lembrar do quão boa é esta música. Fear of the Dark chega pra você dizer: "Ah, não! Com tanta música boa não tocada há tanto tempo e Fear of the Dark de novo?!!!"Mas é impressionante como a filhga da puta funciona bem ao vivo e incendeia o público após a viagem mística de Seventh son e ao baixo galopante de The Clairvoyant. Iron Maiden vem pra encerrar a primeira parte do show com o Eddie mais fantástico reproduzido ao vivo, dando a luz ao sétimo filho. Não há forma melhor de encerrar a primeira parte do show com o Eddie, literalmente parindo o sétimo filho. Após o bis, Aces High é outra surpresa nesta tour. Como meu amigo Camillo falou, o show começa de novo com ela. É uma das músicas mais adoradas do Maiden e uma das minhas preferidas, mas que exige muito do Bruce. E como abertura do bis, o Bruce e a banda já estão muito cansados. Mais uma que poderia dar espaço a mais músicas do Somewhere in Time que toda a humanidade quer ouvir há decadas. The evil that men do e Running free encerram as quase duas horas d'apresentação. São mais duas músicas pra lá de batidas que não deixariam ninguém triste se saíssem do set...
E este foi nosso último show em terras canadenses. Já são dezoito shows do Maiden nas costas, vistos em dois continentes, doze países e dezesseis cidades. Já vi shows do Maiden bons, ruins, fantásticos e históricos. Já vi o Maiden tocar pra menos de 10 mil pessoas e pra quase 100. Mas uma coisa não mudou em todos esses lugares. O profissionalismo da banda que, mesmo nos dias ruins, dá 300% ao vivo. Da devoção e paixão dos fãs, seja qual for o país, continente, cidade, lugar. Não são palavras dum fã fanático, apesar de parecer. São palavras de quem já viu e vê tantas bandas, mas que só a Donzela de Ferro consegue reunir tantos sentimentos duma só vez. E não são só os meus. Enquanto esses senhores ingleses continuarem levando sua arte tão a sério e fazendo tudo com paixão e profissionalismo, vai ser difícil parar e pros fãs, vai ser difícil enjoar, mesmo que, infelizmente, o set list continue sendo sempre o calcanhar d'Aquiles desses bretões tão fantásticos. Que venha 2013 com algumas mudanças. A esperança nos faz sempre acreditar. Up the irons!!
As fotos do show, você pode ver aqui:
Set list
Intro
01. Moonchild (from Seventh Son of a Seventh Son, 1988)
02. Can I Play with Madness (from Seventh Son of a Seventh Son, 1988)
03. The Prisoner (from The Number of the Beast, 1982)
04. 2 Minutes to Midnight (from Powerslave, 1984)
05. Afraid to Shoot Strangers (from Fear of the Dark, 1992)
06. The Trooper (from Piece of Mind, 1983)
07. The Number of the Beast (from The Number of the Beast, 1982)
08. Phantom of the Opera (from Iron Maiden, 1980)
09. Run to the Hills (from The Number of the Beast, 1982)
10. Wasted Years (from Somewhere in Time, 1986)
11. Seventh Son of a Seventh Son (from Seventh Son of a Seventh Son, 1988)
12. The Clairvoyant (from Seventh Son of a Seventh Son, 1988)
13. Fear of the Dark (from Fear of the Dark, 1992)
14. Iron Maiden (from Iron Maiden, 1980)
Bis
16. The Evil That Men Do (from Seventh Son of a Seventh Son, 1988)
17. Running Free (from Iron Maiden, 1980)
Ps: Post dedicado à minha companheira no show de Toronto. Dona do albergue d'Ozonia e que me aturou por semanas no seu cafofo com tanto carinho. Até o próximo, Ozönia. Up the irons!!